A  Contradição de Ser
 
Sente que
a cavidade peitoral está oca.
Desconhece por onde
possa andar o coração.
O vazio estende-se
pela cavidade estomacal.
Também as vísceras
parecem tê-lo abandonado.
Sente que o corpo é mera
casca sem substância.
Visão dramática,
porém metaforicamente verdadeira.
O ser sente-se escasso de existência.
Assim é,
que cansado de vida real,
assumiu sua sombra,
tingiu-se de obscuridade,
tentando não mais ser visto.
Ignorou-se de tal forma
que, fosse possível, 
a imagem do espelho
absorveria o indivíduo real.
Dominou-se
por tamanha virtualidade,
que duvidou ele mesmo
não ser uma ilusão.
Leveza de alma,
não de  suavidade,
mas  de dormência.
Não sabe se faz parte
de sonhos ou de pesadelos.
Pressente que os passos
dirigem-se com vontade própria.
Alguns metros à frente
estará o profundo abismo.
Qual a razão da visão
deste imenso buraco?
De alguma forma estaria
sentindo-se em queda livre.
Uma estranha promessa de nada,
de total abstração.
Por fim, gerando tensão mental,
despertando a sensibilidade
para as contraposições,
vendo ao longe
o degladiar de anjos contra demônios.
Percebendo o confronto
das virtudes com os pecados,
prevendo como consequência 
a dissociação de corpo e alma.
Observando as contraposições
das emoções com os pensamentos.
Tentando entender
o combate silencioso
entre a razão e o instinto.
Questionando até onde o limitado,
até onde o ilimitado,
daí vagando, inquieto, pelos conceitos
de efemeridade e eternidade.
Por um minúsculo
instante, uma profunda paz,
para logo descobrir ser
apenas prenúncio
de profunda inquietação
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 09/06/2009
Código do texto: T1640646
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