A Vontade de Viver contra a Dor

É importante nunca perder a esperança.
Mesmo ante a contrariedade,
é preciso mantê-la viva.
É essencial não macular os ideais mais puros,
assim como não se deve destruir os sonhos.
Tem dignidade quem mesmo ante o aguilhão da dor
vive a enfrentá-la, não morrendo antes do tempo.
Tem valentia o náufrago
que, mesmo sem expectativa de salvar-se,
luta até o seu último momento.
Ter grandeza não é abandonar o corpo,
pois cabe-nos sua defesa
como instrumento sagrado da vida.
Que não se engane o idealista
ao desprezar a realidade,
pois é ela o meio de concretização do ideal.
Pois que saiba aquele
que ama as diretrizes do espírito, que dia haverá
em que deverá saber lidar com a matéria.
O ideal deve ser mantido,
assim como a vida vivida.
O ideal é semente
a ser fecundada no solo cotidiano.
A realidade pode ser adversa.
Pois que primeiro aprenda a entendê-la,
para só depois tentar mudá-la.
Ao que sente-se como estrangeiro no mundo
isto pode significar tremendo sacrifício,
verdadeiro risco.
A cruz de cada um.
Que de início aprenda a razão,
pois que esta alimenta
mais o espírito que o corpo.
Que venham, depois, os manuais de regras,
os receituários de costumes,
o difícil ajuste ao viver cotidiano.
Que desperte a curiosidade
pela história humana,
que as dúvidas levem à filosofia
e o pensar às ideologias.
Que os temores e a busca o conduzam à religião.
Que constate, avalie, pondere
e chegue às suas conclusões.
Que a maturidade do espírito
suplante a juventude do corpo,
alimentando o aventureiro com paciência.
A consciência há de dizer
da necessidade de construir,
há de embutir no ser o seu objetivo de vida.
Mesmo que não saiba o quê,
ou para quê,
mas a mensagem lá ficará
como se fosse parte dele mesmo.
Será tão íntima
que há de introduzir-se na alma,
estando acima de seus sorrisos ,
de suas lágrimas.
Viverá como homem do mundo,
mas dentro de si
antes de tudo será homem do espirito.
O espirito que clama pela paternidade divina,
doce perante o Pai, forte perante os irmãos.
E força estará na fé
que o une ao desejo de justiça.
E o justo há de despertar a outros justos.
Aos astutos hipócritas dará a dissimulação,
para depois premiá-los com o julgamento da justiça.
Saberá que por detrás do mundo coisificado
está a essência que a tudo conduz,
descobrirá suas leis.
Partirá da busca pela origem,
as causas que determinaram os efeitos,
e encontrará o que supunha-se perdido.
Antes, porém, será invisível,
por vezes o grande tolo,
o cordeiro a ser abatido
na mão dos ávidos lobos.
Obedecerá às regras do jogo humano,
causará, quem sabe, até inveja
por ter aquilo que não deseja.
Buscará convencer-se de sua humanidade,
trabalhará a aceitação
e a rebeldia curvará a serenidade adquirida.
A razão amadurecida,
as revelações da vida,
confirmarão para ele
que de fato tem efetiva sanidade.
Terá que viver intensamente o seu presente
sem escravizar-se às suas teias,
como semente de nova era.
E desta vez não será o seu sangue,
mas seus pensamentos, seus sentimentos,
a fertilizar o solo escolhido.
E quando se for,
o último destino físico estará cumprido,
estará finalmente livre para o universo.
Retornado a espírito, como tal ficará.
Será presença será individualidade,
mas já será filho e não mais servo.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 21/05/2009
Código do texto: T1606614
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