PROSA POÉTICA AMIZADE
O Poder da Vontade
Toda a mais profunda inquietação, todo o mais dilacerante desassossego.Como pode uma alma de potro bravio se acomodar com o destino de dócil jumento? Como conciliar ímpetos tão diferentes?
A clausura do dia-a-dia, a prisão da vida cotidiana. O desejo de abrir portas e janelas, o impulso a ser controlado de, se preciso for, demolir as paredes.
A jaula. A prisão. O desejo de ter as poderosas asas de águia para alçar voo e fugir da cela. Mergulhando o corpo nas fortes correntes de vento, descobrindo o lado suave que habita a força.
Seria um momento ocasional?Ou um caso mais complexo, como que as fortes rédeas do destino? A sensação de aprisionamento seria determinada pelo meio, ou seria íntima, estaria dentro de si?
O corpo, a vida, a existência, tudo não implicaria algum nível de limitação da liberdade?
Haveria, então, uma fuga de fato ou apenas um instante onde fosse possível levitar a alma em liberdade?Linhas imaginárias a confundir os fortes e bem definidos traços com sua predestinada direção.
Os caminhos e suas múltiplas dimensões, da poeira das estradas às etéreas e coloridas vias de energia. Num alado olhar introspectivo o desenhar de estranhas imagens e de umas tantas sensações furtivas.
Talvez um alucinado Quixote a lutar contra seus moinhos, numa heróica e patética luta. Numa quase contradição, sendo um perseguidor que tenta aprisionar para si a almejada liberdade.
Fazendo-se viril e forte como devem ser os homens, mas não conseguindo matar dentro de si o menino.Daí o chorar do árido pranto que se transforma em amargura por não conseguir realizar os sonhos infantis.Daí o confronto íntimo, a rebelião de pensamentos e sentimentos contra a constatada realidade.
Ego indomável, força autoritária, a tentativa de conter a própria vontade e sua tendência à obstinação. O velho conquistador a assombrar o ser com seu desejo de realização da sua metálica vontade.
Em meio aos tantos impulsos, a mediação da consciência tentando julgar o que é certo e o que errado. Sabendo-se justo, tentando entender a razão que conduz o que é misericordioso, atacando e temendo.Percebendo que na sua busca planta sementes de eternidade nas limitações da sua efemeridade.
Sentindo o grande conflito que nasce entre as forças biológicas do corpo e o despertar do pensamento.Querendo entender, mas não desejando se iludir, preferindo a dor da verdade à anestesia da mentira.
Mas até onde é suportável a dor? Não será tentado pintar com tons suaves as fortes cores da realidade? Faça isto e tal resignação será conivência que, mesmo denominada de paz, acabará por imobilizar a alma. Confundem-se assim o ímpeto guerreiro e a necessidade de paz. Atração e aversão pelo embate da luta.
Mesmo na paz é necessário ser viril, talvez paz e luta não sejam conflitivas... e se forem, o que fazer? Concluir que vive e está na Terra , mas que não consegue retirar o olhar do horizonte e do céu.
Confrontando a natureza prática à busca do impalpável, tentando desvendar os segredos das estrelas.
Deixando o pensamento ir para muito longe, como que se fosse possível viajar por entre as galáxias. São muitas as faces de uma alma. Por vezes já é velha e se vê constrangida pela juventude de um corpo.
Divagações entre o que julga coisa de jovem a confrontar-se com preocupações típicas dos velhos.Tendo por momentos a certeza da sua solidão humana, assim como a convicção de companheiros de alma.
Compensação psicológica, proximidade da loucura, ou de fato uma possibilidade concreta ainda não definida? Fosse sonho, fosse ilusão, ainda assim seria essencial suprir a necessidade de compartilhar a sua existência.
Pressente que inútil seria alimentar a própria solidão, mesmo que momentaneamente ela, de fato, exista. Sensação de brevidade em meio à eternidade. Fosse possível o encontro num minúsculo instante
seria a imagem de aventureiro cigano a vagar pelos caminhos que abrigam os passos do tempo. Seria viajante a se abrigar em muitas pousadas, travando conhecimentos e experiências.
Encantado com o saber, irritado com o viver. Mas por sentir que não há opção, continua a caminhar.
Nova imagem. Caminha decidido, aturdido não sabe se por suposta lucidez ou por ter tantas dúvidas.Caminha concentrado, indiferente ao que o cerca, não percebendo que vai criando asas,
não tendo, porém, noção de que elas põem-se a bater, erguendo-o em alto voo. E ele vai voando ser saber que é alado.
Vai deixando o solo cada vez mais distante, não sabe mais até onde estão seu corpo e sua alma. Desaparece a sensação de estar dividido, mistura estranhas lágrimas à invulgar felicidade. Está livre de si e nunca se sentiu de forma tão inteira.
O Poder da Vontade
Toda a mais profunda inquietação, todo o mais dilacerante desassossego.Como pode uma alma de potro bravio se acomodar com o destino de dócil jumento? Como conciliar ímpetos tão diferentes?
A clausura do dia-a-dia, a prisão da vida cotidiana. O desejo de abrir portas e janelas, o impulso a ser controlado de, se preciso for, demolir as paredes.
A jaula. A prisão. O desejo de ter as poderosas asas de águia para alçar voo e fugir da cela. Mergulhando o corpo nas fortes correntes de vento, descobrindo o lado suave que habita a força.
Seria um momento ocasional?Ou um caso mais complexo, como que as fortes rédeas do destino? A sensação de aprisionamento seria determinada pelo meio, ou seria íntima, estaria dentro de si?
O corpo, a vida, a existência, tudo não implicaria algum nível de limitação da liberdade?
Haveria, então, uma fuga de fato ou apenas um instante onde fosse possível levitar a alma em liberdade?Linhas imaginárias a confundir os fortes e bem definidos traços com sua predestinada direção.
Os caminhos e suas múltiplas dimensões, da poeira das estradas às etéreas e coloridas vias de energia. Num alado olhar introspectivo o desenhar de estranhas imagens e de umas tantas sensações furtivas.
Talvez um alucinado Quixote a lutar contra seus moinhos, numa heróica e patética luta. Numa quase contradição, sendo um perseguidor que tenta aprisionar para si a almejada liberdade.
Fazendo-se viril e forte como devem ser os homens, mas não conseguindo matar dentro de si o menino.Daí o chorar do árido pranto que se transforma em amargura por não conseguir realizar os sonhos infantis.Daí o confronto íntimo, a rebelião de pensamentos e sentimentos contra a constatada realidade.
Ego indomável, força autoritária, a tentativa de conter a própria vontade e sua tendência à obstinação. O velho conquistador a assombrar o ser com seu desejo de realização da sua metálica vontade.
Em meio aos tantos impulsos, a mediação da consciência tentando julgar o que é certo e o que errado. Sabendo-se justo, tentando entender a razão que conduz o que é misericordioso, atacando e temendo.Percebendo que na sua busca planta sementes de eternidade nas limitações da sua efemeridade.
Sentindo o grande conflito que nasce entre as forças biológicas do corpo e o despertar do pensamento.Querendo entender, mas não desejando se iludir, preferindo a dor da verdade à anestesia da mentira.
Mas até onde é suportável a dor? Não será tentado pintar com tons suaves as fortes cores da realidade? Faça isto e tal resignação será conivência que, mesmo denominada de paz, acabará por imobilizar a alma. Confundem-se assim o ímpeto guerreiro e a necessidade de paz. Atração e aversão pelo embate da luta.
Mesmo na paz é necessário ser viril, talvez paz e luta não sejam conflitivas... e se forem, o que fazer? Concluir que vive e está na Terra , mas que não consegue retirar o olhar do horizonte e do céu.
Confrontando a natureza prática à busca do impalpável, tentando desvendar os segredos das estrelas.
Deixando o pensamento ir para muito longe, como que se fosse possível viajar por entre as galáxias. São muitas as faces de uma alma. Por vezes já é velha e se vê constrangida pela juventude de um corpo.
Divagações entre o que julga coisa de jovem a confrontar-se com preocupações típicas dos velhos.Tendo por momentos a certeza da sua solidão humana, assim como a convicção de companheiros de alma.
Compensação psicológica, proximidade da loucura, ou de fato uma possibilidade concreta ainda não definida? Fosse sonho, fosse ilusão, ainda assim seria essencial suprir a necessidade de compartilhar a sua existência.
Pressente que inútil seria alimentar a própria solidão, mesmo que momentaneamente ela, de fato, exista. Sensação de brevidade em meio à eternidade. Fosse possível o encontro num minúsculo instante
seria a imagem de aventureiro cigano a vagar pelos caminhos que abrigam os passos do tempo. Seria viajante a se abrigar em muitas pousadas, travando conhecimentos e experiências.
Encantado com o saber, irritado com o viver. Mas por sentir que não há opção, continua a caminhar.
Nova imagem. Caminha decidido, aturdido não sabe se por suposta lucidez ou por ter tantas dúvidas.Caminha concentrado, indiferente ao que o cerca, não percebendo que vai criando asas,
não tendo, porém, noção de que elas põem-se a bater, erguendo-o em alto voo. E ele vai voando ser saber que é alado.
Vai deixando o solo cada vez mais distante, não sabe mais até onde estão seu corpo e sua alma. Desaparece a sensação de estar dividido, mistura estranhas lágrimas à invulgar felicidade. Está livre de si e nunca se sentiu de forma tão inteira.