Querendo Entender a Dor
Que fazer contra a saudade?
Que fazer contra a tristeza
que brota do coração?
Vivenciar a nossa humanidade
é conviver com a perda contínua.
Aliás, o que é a efemeridade,
senão uma ilusão?
Nos enganamos
por conta da sua materialidade,
de sua consistência,
por conta do seu mundo concreto,
que engana nossos sentidos.
O que somos nós senão escravos
de um minúsculo instante,
de pequeno espaço de tempo
onde nascemos para morrer?
Pois de todas as mais vãs certezas,
morrer é inerente à vida. Concluído isto,
quanto de estúpida filosofia
poderíamos economizar...?
A felicidade da vida
é fugaz como os segundos do relógio.
E por que ser feliz,
se a própria felicidade
será o ônus maior na perda?
Se tentássemos ter alguma grandeza,
tais verdades nos esmagariam.
Não há como
não nos sentirmos minúsculos,
humilhados por nosso tamanho.
Seremos heróis ou infiéis anjos caídos?
Nem pela razão, nem pela fé.
A dor no coração é espada
que brada contra a insignificância.
É revolta inútil,
é esbravejar de vontade esgotada,
tolices da infantilidade da alma
que se ilude em poder e força.
Que horror em constatar a própria fraqueza,
a nossa extrema fragilidade.
Quebradiços seres de carne e osso,
máquinas biológicas encantadas.
Suprema é a dor
que quer se reconciliar com prazer,
que supõe ser apenas ideal.
Utopias de si,
até onde a franqueza
pode suportar o desmascarar de si?
Uma violência vulcânica agita sentimentos
que gostariam de não existir.
Não cabe a opção,
mas apenas o contínuo constatar.
O destino está dado,
e pouco resolverão a fúria e o ódio.
Podem predominar, podem conquistar,
mas serão sempre vazios,
despojados do que supunham ter.
Nossos castelos de cartas,
é tudo uma questão de tempo.
Um dia a dor olhou para morte,
um dia a morte olhou para dor...
E ficou nisso, num sentido indefinido,
num nexo que se perdia,
numa possibilidade de encontro,
num desejo de alguma explicação.
Num silêncio calado que tudo admitia,
mas que nada quis ser,
pois que já era tarde,
como para toda possibilidade perdida.
Tudo parece ser tarde demais
na ilusão de tempo,
na ilusão humana
que brinca de ser tudo sobre o nada,
que brinca de ser forte
para não cair ante a própria fraqueza.