Cavalinho de papel

Eu tracejei num papel

Um pequeno carrocel

De cavalinhos de muitas cores.

De seguida entrei nele

E lá me perdi de amores

Por um cavalinho triste

Que me pediu, por favor,

Que lhe ensinasse a cor do sorrir

E, do sentir, o sabor,

Pois só conhecia o do sal

Que lhe queimava a alma

Da madeira q o sustentava,

E lhe tirava o alento

De soltar as crinas ao vento

E sonhar!...

Em espanto, toquei o cavalinho,

No dorso pousei minha mão

E, com carinho, lhe dei, num sorriso,

Um pedacinho do coração!

Pouca coisa...

Que, para quem nunca sentiu,

Uma pequena gota é um rio

E o micro transforma-se em macro

Na passagem de um segundo!

E uma ilha passa a ser o mundo,

E numa flor vê-se o jardim...

Num simples toque saboreia-se

O macio do cetim...

E o pálido rosto vira carmim...

E...

O cavalinho sorriu para mim

E disse, simplesmente:

Sabes, Eu gosto de ti;

Eu...

Bebi o mel daquele olhar,

Saí depressa do papel

E não deixei q o cavalinho

Me visse chorar!...

Agora,

Quando olho o carrocel,

Sei q aquele cavalinho,

De olhar de mel,

Um dia aprendeu...

A amar!

Alma Lusíada
Enviado por Alma Lusíada em 18/05/2006
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