ROMANCE DE UMA FLOR DE LÓTUS

Minha amiga de voz d'alma,
Ouro tu tens merecido,
Flor-de-lótus, dou-te um lago
Das lágrimas que choras comigo...

PARABÉNS, RUTE, UM ANIVERSÁRIO É SEMPRE UM MARCO!
SEMPRE. ESPERO, NA SENDA DUMA VIDA LONGA E FELIZ!!

No tempo do faz-de-conta,
Conta a história do tempo,
Que nasceu, por pura afronta,
Uma florzinha do campo...

Não tinha valor de jóia,
Nem sequer de fantasia,
Cravo, seria de alfaia,
Rosa, de ventos seria!

Miúda, na terra fria,
Foi pisada, ignorada,
Mas seu perfume ascendia,
Fez-se aço, temperada!

Colheu-a alguém, disfarçado
De caridade coagido,
Prendeu-a num vaso dado
Que se queria agradecido...

Flor-de-lótus, renascida,
Ergueu-se do lodo impuro,
Foi fulgor, seiva de vida,
Em matizes de cristal puro.

Mas refracções de cristal
Nem sempre são arco-íris,
As lágrimas sabem a sal,
Amargam os parcos risos...

E a flor definhou perfumes,
Sobreviveu a marés,
Deu frutos, saíu incólume,
Fincou-se, venceu revés.

Por si mesma replantou-se,
Rasgou raízes, dorida,
Sozinha, seus frutos trouxe
A uma terra prometida...

Mas as raízes magoadas
Perderam-se no mar imenso,
Suas pétalas são sanadas,
A alma, a saudade a vence!

Ventos lhe trouxeram ecos
Dum amor que não chamou,
Dócil brisa d'aconchego
A ungiu e perfumou!

Foi um fulgir de esperança,
Em noite de prata e lua,
Fulgor que só se alcança
Se com a Dor se pactua!...

Foi-se a esperança, vive a flor,
Em tons de ouro e saudade,
Mas só quem conhece a Rute*,
Sabe esta lenda Verdade!...


*leia-se "o Amor", se se quiser rimar... mas... "Amor" nem sempre tem rima certa!...



(Hoje, 14 de Janeiro, o meu presente de aniversário para ti, Rute, minha Aguarela tão amiga...)