PENSE, SINTA E REPENSE
PENSE, SINTA E REPENSE
Nullun crimen, nulla poena sine lege
(por Juliana S. Valis)
Alguém quis pensar demais e acabou preso,
Como todos aqueles que ousaram pensar
Além do ilusório mundo das aparências
E se transformaram em verdadeiros mártires do pensamento!
Por não admitirem a alienação perpétua,
Infringiram a lei tácita do menor esforço,
Foram sumariamente condenados pelos homens
E por seus códigos penais eternos...
Eis o mais perigoso ato de todos: pensar!
Pensar sobre a frivolidade dos hábitos humanos,
Sobre a inutilidade do consumo excessivo,
Sobre a vulnerável égide do mundo capitalista,
Sobre a ineficácia e a brutalidade da guerra,
Sobre a efemeridade do que é belo, lúgubre e lascivo,
Pensar acerca do terror na Terra,
O terror xiita, o terror G-8,
O terror nazista, o terror Kioto,
O terror “exclusão”, o terror Dow Jones,
O terror etc, etc, etc,
Indefinidamente adjetivado !
Pensar acerca das religiões:
A cerca entre a sinagoga e a mesquita,
Entre o templo budista e o ortodoxo ,
Entre os pseudo-mocinhos e os pseudo-vilões,
Todas essas cercas de todos os tempos
Terão sido feitas pelo que é divino
Ou pelo que é "politicamente" humano?
Pensar a respeito da própria relevância de pensar,
Repensar o respeito em suas múltiplas dimensões,
Pensar sobre a personificação das coisas,
E sobre o neologismo da "coisificação" das pessoas,
Como se os humanos fossem bens substituíveis
Na absurda "lógica" de um tempo mudo, de um mundo instável,
Refletir sobre tudo, enfim, sobretudo a paz !
Não há ato mais ameaçador
Nem audácia mais antiga do que pensar,
Pois o pensamento humilha o despotismo dos poderosos,
Fere a ganância dos soberbos,
Explicita o débil álibi dos orgulhosos,
Aniquila o prestígio dos manipuladores...
E ainda que se diga livre a manifestação do pensamento,
Poucos são induzidos a concretizá-la;
E, assim, vê-se em muitos lugares do mundo
Um grande vácuo existencial
E uma degeneração de neurônios,
Como se pensar fosse um crime inafiançável e imprescritível...
Meu sonho é que possamos despertar as nossas mentes
Até que o pensamento deixe de ser temido
Como o mais nefasto de todos os crimes,
Ou como o mais tedioso de todos os comportamentos,
Para se incorporar beneficamente à vida humana,
Como o mais nobre de todos os atos.
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