Confissão do Tempo

Eu sou o vento andante

que soa na folha da palmeira.

O flamejo do agora e o antes

que pontilha a vida inteira...

Sou o mesmo fio que vaza a agulha

e borda o vestido

da noiva sonhadora

e o negro véu da viúva.

Sou o olheiro da casa das saúvas...

Os calos dos pés que amassam as uvas.

Sou a fria grade das masmorras.

Vejo filha se tornar mãe

e embalo o balanço das gangorras.

Sou o solo enrugado do agreste.

O sal da lágrima do sertanejo,

da emoção que troveja em seus olhos

quando no céu surge o primeiro lampejo.

Sou o espelho do antes, o agora e o depois.

O vento passou. A saúva mudou,

a uva fermentou...

A chuva não veio,

o sertanejo inda chora.

A viúva, novamente

se apaixonou

e a noiva engravidou.

Mas, quando cheguei

tornei em realidade,

em dura verdade

o que se sonhou.

(Sirlei L. Passolongo)

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