Chão Agreste
Chão Agreste
Ivan Ferretti Machado
José Raimundo, 15 anos de idade,
atrás da felicidade pelo mundo se jogou.
Deixou prá trás a miséria do nordeste,
menino cabra da peste, prá São Paulo se mandou.
Trouxe consigo todos os sonhos de criança,
na bagagem a esperança, na segunda ele chegou.
Arranha céu, calçadão, muita gente apressada,
as vitrines enfeitadas, tudo isso lhe encantou.
E neste dia desabou um aguaceiro
que durou o dia inteiro, ele até se assustou.
Nossa Senhora que dilúvio mais profundo,
já chegou o fim do mundo, Deus do céu se arretou!
E ali na São João foi morar numa pensão.
Traficantes, viciados, prostitutas e viados,
covil de gente ruim, todo tipo de ladrão.
E viu que o sonho não passara de ilusão,
tudo aqui é depressão, de repente ele chorou.
E noite afora se lembrava toda hora
da maínha e do sertão que lá longe ele deixou.
E o destino que é danado igual menino,
conheceu o Severino que gostava de aprontar.
Neste mundo o que não falta é tentação,
descolaram um trez-oitão, -- A gente vai se levantar! --
E dai o Zé Raimundo, que chegou tão inocente,
mudou completamente, à malandragem se juntou.
Vagabundagem, vadiagem, pilantragem, entorpecente.
Vida podre... Indecente, rumo errado ele tomou!
Encarquerado, esvoaçado, mil e uma presepada,
assalto a mão armada, dava medo até de ver.
E numa lança deu chapéu na malandragem,
que tremenda pilantragem... -- Zé Raimundo vai morrer! --
Cidade grande, viadutos, avenidas, muitas pontes,
o diabo aqui se esconde, isso aqui é um mundo cão.
E viu, então, que o sonho não passava de ilusão,
tudo aqui é depressão, de repente ele chorou.
E noite afora se lembrava toda hora
da maínha e do sertão que lá longe ele deixou.
Porém com a bandidagem não se pode dar mancada,
vacilou numa quebrada com uns caras matador.
Nossa Senhora, Deus me livre dessa sina
se obrigou fazer menina desses monstros sem pudor.
Calibre grosso, uma porrada de pipoco.
--Nós viemos dar o troco, seu pilantra traidor!
E o seu sangue escorreu pela calçada,
parecia enxurrada, em seus olhos o pavor.
Virgem Maria! Mas que crime pavoroso,
se juntou de curioso, teve gente que gostou.
E naquele dia, quem diria, virou capa de jornal,
outra vitima fatal que o cruel destino entrelaçou.
E viu, então, que o sonho não passara de ilusão
tudo aqui é podridão, de repente ele chorou.
E noite a fora se lembrava toda hora
da maínha e do sertão que lá longe ele deixou.
E o menino que nasceu lá no nordeste,
terra seca, chão agreste, nunca mais prá lá voltou