SENTIMENTOS SUPERLATIVOS: hipocrisia versus esperança

HIPOCRISIA VERSUS ESPERANÇA

Juliana S. Valis

A hipocrisia costumava ser belíssima por fora,

Mas tão repugnante por dentro da verdade,

Que, um dia, o tempo mandou que fosse embora

Todo sentimento finíssimo de falsidade...

Mas, com o vento, voltava a hipocrisia,

Em sua chiquérrima fantasia de riqueza,

E sua máscara caía, certo dia,

Na metamorfose constante da incerteza !

Em um instante de silêncio, todavia,

Eis que a hipocrisia se disfarçava novamente,

Belíssima, famosa e arredia,

Como todo "sentimento" que não sente !

De repente, surgiu a esperança,

Paupérrima como um sopro de aventura,

E desafiou a hipocrisia, que só dança

No teatro da aparência mais impura...

Na platéia daquele duelo, estava o tempo

Juntamente com a lembrança e com a paz,

Torcendo pela esperança no momento

Em que a hipocrisia deu-lhe um golpe lá por trás...

Caindo a esperança, veio a dor,

Amaríssima, na proporção da injustiça;

E, afetadíssimo, protestou então o amor

Contra a hipocrisia, que trapaceia e enfeitiça !

A esperança, assim, disse: de fato,

A hipocrisia só me atinge pelas costas,

Nesse mundo materialista e insensato,

Mas o tempo tem lá suas respostas !

Num só momento, levantou-se a esperança

E combateu a hipocrisia, com vontade,

Derrubando a adversária com a lança

Do afeto, da inteligência e da verdade !

E, afinal, o sentimento de bondade,

Levíssimo, como um pássaro no infinito,

Anunciou que a esperança vence tarde,

Mas não repete o que a hipocrisia nos tem dito.