Carta ao amigo distante (A vida: do sonho até despertar)
Carta ao amigo distante
(A vida: do sonho até despertar)
Ao querido e eterno amigo
Que estou feliz por reencontrar
Veja só, querido amigo, amigo da vida inteira
Como é curta essa corda delgada, chamada de vida
E que, nos tenros anos, nos parece tão comprida...
Mas cabo-de-guerra da vida não é brincadeira
E, jovens, brincando com tudo, deixamos levar
Largamos o cabo-da-vida, que olhamos passar
O tempo, solvente dos sonhos, nos rouba a visão
Que, presa na trama dos dias, nos traz distração
Distante da preocupação de não se alienar
Olhamos o tempo passar em pequenas conquistas
Feliz por poder suportar, mesmo sem deixar pistas
Pequenos e tão conformistas, nos vemos chorar
Chorando no rio recôndito em risos tão brancos
Montando o ginete do dia e mordendo-lhe os flancos
Calçando tamancos pequenos, senti calejar
A alma e os pés tão doridos não ousam roubar
Os inúmeros sorrisos e a alegria de criar
Moldando, como em massa de moldar, amados filhos
Sacado dos sonhos e preso à bitola dos trilhos
Já sinto essa ponta de orgulho, e uma chama se acende
A chama que queima somente quem a compreende
Que a vida, depois de doer, é que nos surpreende
Só quando se aprende o que a dor é capaz de ensinar
Que o fio que já não se estende, ´inda hei de esticar
Mas que a vida tem tanto de sonho, quanto despertar
(Djalma Silveira)