NÃO SEI, NÃO SEI...
«Não sei, não sei...», digo e pouso o queixo
na mão entrecerrada, em disposição de se abrir
às auroras e aos crepúsculos, não aos lobos
mas às pombas (símbolo sujo, mas símbolo
da paz. Não sei, isto certo não o sei, por que
são símbolo da paz... obedecido até por Picasso,
esse pintor e poeta comunista, mas sem exageros.)
E assim reflexivo medito-me: «O amor real
é o amor real (quase sempre antes fantasiado
e depois desiludido, como nos acontece em regra
com quase tudo o que fantasiamos e a seguir
pretendemos tornar real, efetivo, valioso...),
enquanto o amor fingido é amor lirizado,
não sei se lírico (nem fantasiado nem real:
apenas lírico: imaginado, mas guarnecido,
enfeitado, cheio de atavios, tornado belo,
alindado com as vestimentas ou as sedas
mais formosas e ricas que imaginar podem
as mentes febris dos poetas).»
Vou pensando.
E continuo:
«Pretender que ambos
os amores confluam, vale tanto como tentar
que a palavra poética seja divina, criadora
real de realidades: Apenas (e nada menos)
a palavra poética cria fingimentos e neles
é que devemos (sim, devemos) ficar gozosos
e gostosos, cara Poeta Galega.»
E mais penso
que poderia continuar, mas acho que com o dito
já disse avondo. Apenas um chisquinho reflexivo
mais:
«Apesar de todos sermos poetas (ou
aprendizes de poetas, como eu) a pessoa feminina
vive a poesia de jeito, em geral, bastante diferente
da pessoa masculina. É por isso que mais não digo:
Temo que os meus considerandos (que não conselhos)
sirvam à masculinidade, mas sejam radicalmente
inúteis para as mulheres, peladas ou não, nuas
ou vestidas, tanto tem.
Beijo lírico e se for possível
também real.
Quem deveras te quer, assinado:
Aprendiz de Poeta