Amiga
Amiga
Amiga, doce amiga
amiga amarga
amiga temperada
nas cores e odores
da vida
amiga, que saudade!
despedida sempre dói
mas dói mais a distância
pois a distância é um vazio
que consome o seu entorno
e nos consome transformando
tudo em um pouco de nada
Eh, amiga, querida amiga,
envolta nos laços
com os quais a vida
nos aguarda em cilada
sorrateira, a vida
traiçoeira, amaldiçoada, a vida
vida cheia de falsas promessas
vida cheia de falsos amigos
vida cheia de coisas que se vão
com a primeira lufada de vento
cheia de sonhos que não resistem
ao primeiro raio de sol
vida bandida essa a nossa
Mas, amiga, assim é
a vida dos homens:
uma vida de mentira
uma vida de vazio, de nada
e, no final das contas,
o que resta a nós
senão nós mesmos,
senão o que sobrevive às tempestades
aos amigos que restam
à esperança que resta
ao sorriso que, afinal, sobrevive
É aí, então, amiga
que notamos aquilo
que realmente existe
aquilo que não é ilusão
aquilo que a tudo sobrevive
que sobrevive ao tempo
que sobrevive ao choro
que sobrevive quando
cicatrizam as feridas
O que existe e resiste a tudo
é a nossa paixão
é o nosso amor
é a nossa bondade ou ódio
é nossa própria luz
com a qual vislumbramos
todas as coisas do mundo
as quais, queiramos ou não,
nos são dadas como são
É assim, amiga, que
o que para uns é amor
para outros é aventura
e o que para uns é alegria,
para guardar por toda a vida,
para outros é a mais
profunda decepção
Essa é a luz que resiste a tudo
com a qual tudo enxergamos
e pela qual somos notados
pelos outros e deixamos
então, nossa própria marca
Essa é a luz que dá forma
à beleza dos pássaros a voar
é ela que nos tira o fôlego
ao admirarmos um luar
é ela que refresca a brisa
de uma determinada manhã
é ela que torna imortal
um carinho, uma vez, um instante
Essa luz, minha amiga,
é nossa única e fiel companheira
que nos acompanha a vida inteira
e nos anos que brotam
no estalar de um instante,
de nostalgia ou de contentamento
E sua luz é tão brilhante, amiga
que ofusca toda visão
É tão viva e única e dotada
de um singular colorido
onde enxerga o universo
contido na mínima criatura
e a eternidade naquilo que,
de tão fugaz, já passou
E sua luz é abundante!
Tanto que impregna tudo
aquilo em que reflete
e é assim que,
mesmo que você
não se lembre mais,
nada jamais se esquece -
não porque não quer,
mas porque não pode -
de você.
(Djalma Silveira)