MEDUSA (em duas partes): Primeira

«Precioso, precioso. Isso é, há sempre que ir

(regressar é impossível) e vestir o/a

amado/a com as cinzas dos olhos da lua e as

cobras dos cabelos do sol. ...»

(PoetaGalega, comentário ao meu

“Poesia desnuda”)

Cara PoetaGalega, que afetuosa dizes

o que é precioso,

esta vez não dás no alvo bem

e certa; mas, com ânimo generoso,

enganas-te arrastada por amizades

e assombros

e algum incêndio preterido...

Mas aproveito, como velho, para te dar um conselho:

Olhar de frente pode ser perigoso,

muito perigoso. Pode fazer com que a carne

se torne rocha e a perna, penedo e o corpo,

seixo frio...

Então não haveria

mais outeiros coroados de bicos deleitosos

nem sombras amenas de frescura...

Olhar de frente

a Medusa, cobrejante e feia, cinza de sonhos

apenas produz...

Procura a rosa

dos ardores amorosos...

Mas antes coloca com mão segura o escudo

à maneira de espelho animoso

(como Teseu destemido e valente)

de modo

que sobre si se projete a Górgona descorada

e, mudada em calhau impiedoso,

seja de vez degolada e morra...

(A seguir)