TRACTATUS... II (16).- História / Transitória ... (B)

XXVII (B)

«Nomear o inominável é difícil»

Durante um tempo, musical e odorífero,

bebo, bebemos a alegria dos corpos percorridos:

Festim de amor e concupiscência!

Quatro braços e quatro atributos,

divinos, desenhamos dia a dia:

a Concha, o Disco, o Nenúfar e o Cajado.

Somos deuses abismados nas horas

em que a eternidade persiste em o ser...

Felizes e convictos, presos

da liberdade em que nos mergulhamos.

A Concha despregou o leque das canções

nunca ouvidas,

mas pressentidas como eco

de novas conchas

enlaçadas ao eco das conchas

antigas de sorriso aprumado...

O Disco faz com abramos os olhos da memória

ao futuro de promessas moles:

Sinos e gaivotas e ofegos,

a entoarem os salmos

davídicos do amor.

Nenúfares multiplicados

assistem a invocação do gozo

(que tenho nalgum lugar

assinalado...): Ninfas onde quer

topamos, auroras e tardinhas

nos ninhos das aves estremecidas

O Cajado,

voto oferecido ao deus dos corpos

extraviados, «silentes no ópio» da certeza

vencida como a águia caça a pomba lúbrica.

Pouco e pouco

o conflito sementa

o joio odiado.

Quereria que o amor fosse Himalaia,

ergueito e pacífico,

sem polícia invasora

a quebrar as alturas conseguidas...

Mas o fogo esmorece

ou acaso precise alimento não doado...

Corpo e corpo, dantes entranháveis,

são apenas dissonantes hélices

Houve raio jovial e enganoso,

entrementes: ocasião ou simples causa...

Porque, se a Caverna abandona

a projeção das sombras esperadas,

o Jardim deixa também o Éden da origem.

Invoquemos o Platão amoroso,

aquele que faz a realidade dizendo-a...

Recriemos (e acreditemos)

a Concha, o Disco, o Nenúfar e o Cajado:

Princípio e fim das colheitas infinitas.

Pouso o corpo nas águas viventes,

na sombra sagrada que desenha,

húmida, ondas e areias batidas

em abraços sussurrantes,

comoventes: a loucura

semeia paixão febril,

amor orvalhado,

beijos em brasa

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(A seguir)