Confissão aos amigos
O que seria de mim sem meus amigos
seria um remendo de gente
com sentimentos contidos, contritos,
a ermo, feito indigente.
E para onde iriam as lições que aprendo,
os conselhos eruditos que me são destinados?
Cuido tanto para ouvi-los com empenho
e para executá-los sem parecer-me fardo.
E que destino teriam aqueles sorrisos ricos que me dão?
Tão espontâneos e singulares a ponto de fazerem-me pensar
que se não para mim para então quem existirão?
E me é de um gosto podê-los recepcionar...
E onde ficariam as nossas músicas, fotos e prosas
tudo isso que me enche o coração e a pobre estante
pois não são entulhos que me enchem, meras lorotas,
são utensílios que me comportam e me moldam.
E por último, todavia não menos importante,
preocupo-me onde ficariam os meus sentimentos...
Apenas pô-los nas palavras que escrevo não é o bastante
e sem meus amigos seriam-me só pobres palavras
entornadas de certa amargura e um tanto de lamentos.