TRACTATUS... II (08).- Ruas e praças, livres, onde é que há? ...

XV

Ruas e praças, livres, onde é que há? Existe

algum estado moderno de cidadãos livres?

Temo-me que os rendimentos anuais

(e não anuais) aos organismos do estado

evidenciem que sabem e falam e nos dão

existência fiscal e cidadã, desde o breu

nunca fendido, mais do que nós sabemos

deles, embora pensemos que falamos deles.

E quem são eles? São os governantes:

N.N., M.M., L.L.... e assim por diante, todos?

Não,

De jeito nenhum!

«O seu oco» tenta preencher todos os nossos

pensamentos, sem hipótese de podermos

fugir... (Imaginam!) Cantemos melodias,

dancemos samba ou moinheira,

porque o «oco» nos olha (imagina!) até ao cerne

do nosso ser, esse que sangra com a dor

ou desliza melodias ao falar

ou «incendeia as mãos» com as carícias...

Vejamos, beijemos, baixemos,... (Isto o «oco» não

o imagina!): Digamos que o mundo é nosso,

rapinado, mas nosso. É a nossa casa,

a inevitável e amada casa, única que sabemos,

que gostamos, como se for de chocolate...

Como se dela nos alimentássemos,

porque a Mãe Terra, indivisa, sem fronteiras,

é justamente o ventre que nos nutre ou...

Sim, também são os peitos nutrícios

de que mamamos prazer e futuro:

Peitos como Himalaias generosos

aos nossos desejos inconscientes:

Nem sempre expressos nem talvez

eticamente exprimíveis... Somos!

Somos barro, mas também sopro divino!

Somos suspiro de fame e de fama, mas acaso

livro sem abrir ou aberto demais

ao recitado agoniado por amores incumpridos...

Somos... Esqueçamos o indivíduo

e mergulhemo-nos por entre a solenidade

dos vinhos compartilhados até à bebedeira...

Invadamos felizes os ministérios

e lá, como cidadãos não livres,

proclamemos a nossa independência:

sentados nas cadeiras da esperança...

Esse é, esperança, o alicerce da vida,

não da existência, da vida, da vida cheia,

da vida que também cá nos tornará felizes:

Mas façamos as nossas descobertas,

inversas,

da Natureza que já não é, da liberdade

que civilizadamente foi vestida dos pés

até ao coruto da cabeça: Burka totalitário...