A ti, árvore.
Não me falem de magia dessa vez, por favor:
Sei que o que ali cintila é real.
Caçado pelo tempo
E predador do inesperado
Veja que nesse rosto malfado
Por dentro há um peito
E, agora real, pode ver o clarão.
Te pergunto, pequeno destino, por que te calas?
Poderias muito bem ter-me feito mago
E num jogo de ilusões
Iludir-me em realidade
Mas se fizestes isso
Impedir-me-ia de ver o que agora vejo
O que cintila não é produto sem coesão
Sabemos que tem concisão
Tanto sabes tu, ó destino, que se um dia
Se tive raiva, tu entendes que nada que mora em meu peito
É hoje menor do que um dia um foi
E quanto vivi...
Antes de discorrer por vezes - pois, repito:
Não sou poeta - volto;
O que cintila ali é real,
Pois há dentro desse bosque centenas de árvores
Dessas quais milhões de irreais são reais para alguns;
Porém não para mim.
Sabes tu o quanto sou lúcido
Vejo apenas uma translúcida
E digo-te:
Sei mais das árvores do que elas mesmas de si
E só tu sabes disso.
Por quanto tempo guardei minhas palavras
Só os ventos sabem, pois as carregam.
Um dia eu encontrei um ouvido - ouvirá a árvore que não tem sentidos?
Absurdo seria negar que o sentido maior da natureza
É viver desse sentido nenhum.
O quanto aquela árvore vive sem saber
O quanto ama sem desejar
E o quanto sabe do não saber
Isso, isso nem tu, ó poderoso destino, sabe;
Só eu sei.
Peço-te: faz do meu discurso uma prece;
Faz com que o Deus das árvores seja o mensageiro
E leve o que peço (não o que digo) -
Pedir e dizer não se confundem,
Pois o que peço é o que tenho dentro de mim,
Que é muito maior que qualquer palavra