DIA INOLVIDÁVEL

DIA INOLVIDÁVEL

Amanheci, num belo dia,

No sítio de um parente,

O que é muito diferente,

Do atribulado dia-a-dia

Das cidades e locais,

Onde há muita gente,

Como em grandes capitais.

Já despertei contente

E, em vez do despertador,

Ouvi perfeitamente,

Como canções de amor,

O canto de passarinhos

Vendo filhotes nos ninhos.

O Sol, que diferente...

Parece estar perto da gente,

Que sensação excelente...

Sua luz é um presente !

O ar, puro e agradável,

Isento de poluição,

Que cheiro mais formidável...

Da vasta vegetação.

Da janela onde respiro,

Noto o rebanho pastando,

Galinhas e galos ciscando,

Solto até um suspiro...

A ver bezerros mamando.

Dirijo-me ao curral,

Onde me espera Seu Mané

Tirando leite quentinho

Para tomar com café;

Como é sensacional...

Ficar vendo de pertinho.

Próximo, há um pomar,

Onde mato a saudade

Do tempo de criança

E começo a apanhar,

Digo com segurança,

Uma grande variedade

De frutas, uma festança !

O embornal está cheio,

Sobremesa garantida,

Agora preparo o arreio

Para a minha partida.

Montado no Sansão,

Cavalo bom marchador

Cavalgo na região,

Aprecio um esplendor.

Passo por uma porteira,

Ouço o som peculiar

Da dobradiça enferrujada,

Uma coisa corriqueira,

Mas faz-me bem lembrar,

Uma canção bem bolada:

" O menino da porteira ".

Está na hora do almoço,

Aqui bem cedo se serve,

Dona Maria :- seu moço,

Hoje a comida é leve -

Arroz com tutu de feijão,

Carne de porco assada,

Fígado mal passado,

Ovo caipira estalado

E uma boa salada.

-Antes, porém, beba esta

Que é feita aqui no engenho,

Com carinho e empenho

E a gente só toma em festa.

Tudo na banha é frito

No fogão de lenha, é claro,

Se acompanho o filho Dito,

Não sei a hora que páro.

Depois desta comilança,

Quase estourando a pança,

Mais pra lá, do que pra cá...

Vou numa rede deitar.

Mais um momento legal,

Depois do merecido sono,

Pescar com o filho do dono.

Tomo a varinha e o embornal,

Com as tralhas e coisa e tal,

Não esquecendo do picuá

Vou com o Cido pescar.

Um açude transparente,

Lá não há poluentes,

Muitos patos a nadar

Quantos peixes a pular.

Três da tarde, uma surpresa,

Dona Maria, sempre meiga,

Pão de Casa com manteiga,

Improvisa uma mesa,

E nos serve com presteza.

Acompanha cafezinho,

Feito pó no seu moinho,

Por ela, bem torradinho

E um delicioso bolinho...

Bolinho de chuva, o nome

Quanto mais tem, mais se come !

Quando o Sol vai se escondendo

Um espetáculo tremendo...

Que aqui é diferente,

Tem um conjunto de tons,

Trás até inspiração

Que entra na minha mente.

Picuá, transbordando,

Lambarís para a mistura,

Quando a gente vai chegando

Sente o cheiro da gordura.

Seu Mané tá esperando

Com a gostosa cachaça,

Viola em punho, tocando,

Vai ser aquela " mangüaça " !

A patroa vai chegando,

Com peixe frito e polenta,

Suculento molho ardido...

Na panela de ferro fundido.

Seu Mané já está cantando,

Contando causos, comenta,

Sobre esta vida de cá,

Eu digo - melhor não há !

Na cadeira de espreguiçar,

Num gramado bem tosado

Então contemplo o luar

Com medo de delirar...

Pensando ser dono da Lua

Querendo distância das ruas...

Quão boa é a sensação

Desta estada no sertão.

É hora de me deitar,

Estou com o corpo cansado

Porém com a cabeça leve...

É uma higiene mental.

Pena que foi tão breve

A estada neste local.

Então começo a pensar :

- Será que sonho acordado ?

Claro que não! É realidade !

Viver neste lugar,

É plena felicidade !

Auro.