Há sempre momentos exatamente como este
Em que não há nada a fazer, só deixar a vida correr
Selvagem como um animal livre dos zoológicos.
Então se acredita que a morte perdeu nosso endereço,
Que não se terá nunca mais que trabalhar...
Há momentos que não se repetem e por isto são átomos...
Um nano segundo pleno de absolutamente nada...
Há momentos de vizinhança com Deus,
Numa intimidade própria de moleques no recreio da escola...
Quando todas as músicas que vibram em nós são sinfonias
E as lembranças são cartões postais de esperança.
Há momentos como este, onde não se é mais nem menos
Apenas o mesmo tanto desde que nascemos...
Quando se pensa na esposa, na mãe, no próximo Natal...
Sem contas a pagar, sem cartas a responder...
Então somos deliciosamente náufragos,
E o navio mais provável só no próximo século...
Temos o mundo aos pés, o céu a limitar o olhar,
E uma solidão menina para amar.