SOB A LONA DO VERSO

Sob o céu de lona, o acrobata se lança,

tece o ar com giros, um risco de fantasia,

assim o poeta, na corda bamba da palavra,

equilibra sílabas, dança na melodia.

O palhaço, mestre do riso e da lágrima,

pinta o rosto de sonho, esconde a dor no riso.

O verso, como ele, veste máscaras sutis:

numa rima, um pranto; noutra, um beijo.

O malabarista, dono de esferas leves,

joga ao vento cores, desafia a gravidade.

O poeta cria, letras inertes que ganham asas, estrela que brilha na página da verdade.

No circo, o amor à arte que não se apaga,

chama que alimenta cada salto, cada queda.

Na poesia, a musa é vento, é mar, é fragrância

sopra no ouvido , que guia a pena maculada.

O trapezista voa, confia no vazio,

entre um impulso e outro, nasce o instante ,

O poeta, entre o caos e a ordem, inventa asas,

no vácuo da folha, ergue um céu insinuante.

Ambos são nômades: um na estrada sem fim,

outro, trilhando as sílabas a desbravar.

O circo desmonta, a poesia fica ,

ambos porém, sabem: a arte é não parar.