Frio Nostálgico

Em um certo lugar,

Em uma certa cidade,

Pude reexperimentar,

Uma sensação que foi perdida pela idade.

Sob presença de amigos,

Longe de todos os inimigos,

Somente eu mesmo, o pior de todos,

Pisando torto.

Estava eu, eu mesmo, minha pessoa, um amigo e um novo amigo,

Todos tolos íntimos,

Passeando sob o sereno paulista,

Risquei uma vontade da lista.

Conheci amigos,

Reescrevi histórias,

Conheci desconhecidos,

Não preocupei com as horas.

Pude me permitir,

Sem me castigar,

Eu pude ir,

Sem me culpar.

E em um certo concerto,

Numa certa praça,

Foi em meu acerto,

O frio que arrepiava.

Mesmo de casaco, não coloquei,

Mesmo tremendo, eu dancei,

Batia queixo e garganta ardia,

Mas foi a mais sensação viva,

Símbolo de nostalgia.

Vi um amado chorar,

Evangelizei um desconhecido,

Cambaleei na praça,

Por um calor fui envolvido.

Me envolvi, antes de ser envolvido,

Por estar agora vivo,

Acreditando no certo, estando em minhas razões,

Retirando todos os meus grilhões.

Emprestei um casaco para um querido,

Que pra ele não era só um casaco, era um abrigo,

Nem me importei com o vinho sob o branco,

Aquele momento significou tanto.

Ah o frio, que transpassa a pele,

Chega até o osso,

Sob uma brisa leve,

Ele estava conosco.

É certo eu ter saído?

É consciente eu ter abandonado?

Não estou triste, não estou irado,

Mas também não estou errado.

Não bati portas,

Nem rangi dentes,

Não desejei flores mortas,

Não me arrependi dessas sementes.

Foi uma saída silenciosa,

E realmente não quis ser ouvido,

Posso estar sendo punido,

Mas não foi um adeus tímido.

E o sinal do vento áureo,

Que do destino ninguém é páreo,

Senti o sol, senti as rajadas,

Ventanias sob os cabelos firmes.

Entre músicas e abraços,

Puxei coleira de um ser liberto,

Quando pensei ter sido negado,

Fui recebido de braços abertos.

Tive sorrisos, momentos de cansaço,

Momentos de alegria, momentos mais que traços,

Não me repudiei, abracei o frio,

Só para se alegrar com um calafrio.

A mancha está lá, ainda não lavei,

Aquela outra mancha que não é do casaco,

Também não lavarei,

Pois eu sei que não perdi, eu sei.

Entre fumaças e sorrisos,

Entorpecido comigo,

O frio não machucou, nem machucará,

Pois sempre poderemos nos esquentar.

Foram toques sinceros,

Momentos de lucidez,

Memórias de muitos esmeros,

Minha felicidade e sensatez.

Ultrapassamos torres,

Ultrapassamos carmins,

Fizemos nossos corres,

Olharam para mim.

Eram sorrisos com olhos brilhantes,

Olhos curvados em sorrisos,

Foram vários instantes,

Ser íntimo de amigos.

O frio não atrapalhou, ele foi enforcado,

Enforcado por abraços e chamegos,

Amaciando todos os egos,

Inesperados e eternos.

Uma coisa que nunca tive em toda reencarnação,

Foi o sentimento de arrependimento,

Eu ainda entrego meu coração,

A esse singelo sentimento.

Deus me deu esse frio para que eu possa sentir,

E entender a maneira de me esquentar,

Seja quando estiver a rir,

Seja quando precisar chorar.

Nesse inverno me encontrei,

Enterrado sob cobertas de medo,

Com medo de sentir um frio,

Que veio para ficar.

Eu preparo um café, chocolate ou chá,

Tomo um banho quente,

As vezes tenho o prazer de bater dente,

Mas é um sentimento que nunca ficará.

E no vento do inverno,

Trazem gostos e aromas peculiares,

Os que entorpecem e acalentam corações,

Aqueles que iniciam novas canções.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 02/07/2024
Código do texto: T8098506
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