OFÍCIO
Não é coisa fácil a lida
de construir, gesto após gesto,
o riso nas bocas
desacostumadas ao contentamento
das coisas simples.
E há de ser pesado
carregar sempre
uma reserva de alegria
mesmo quando a alma,
eclipsada,
se faz sombria.
Não é para quem pede,
nem é para quem busca,
o fruto flamejante e doirado
da tua labuta!
É só para que sabe (ou intui!)
inventar meninices
e resgatar,
do fundo da infância,
a transparência do riso que,
um dia, trouxemos nas bocas.
Há quem não entenda
e, por certo, há quem
considere tolice a magia,
às vezes desatenta,
às vezes tão séria,
de caçar borboletas
ou vagalumes,
contar estrelas,
catar conchinhas do mar...
Estes, certamente, há anos
não vão ao circo.
Estes, mui provavelmente,
pagam infindáveis prestações
bancárias a troco de vaidades...
Estes, não viajam
nas jornadas imaginárias
de seus filhos.
E nem vale a pena a gente
chamar para armar a lona,
arrumar o picadeiro
e ajeitar a Vida,
mais justa e bela,
para que seja ela mesma
espetáculo,
teimoso e inquieto,
da invenção cotidiana
da alegria.