OFÍCIO

Não é coisa fácil a lida

de construir, gesto após gesto,

o riso nas bocas

desacostumadas ao contentamento

das coisas simples.

E há de ser pesado

carregar sempre

uma reserva de alegria

mesmo quando a alma,

eclipsada,

se faz sombria.

Não é para quem pede,

nem é para quem busca,

o fruto flamejante e doirado

da tua labuta!

É só para que sabe (ou intui!)

inventar meninices

e resgatar,

do fundo da infância,

a transparência do riso que,

um dia, trouxemos nas bocas.

Há quem não entenda

e, por certo, há quem

considere tolice a magia,

às vezes desatenta,

às vezes tão séria,

de caçar borboletas

ou vagalumes,

contar estrelas,

catar conchinhas do mar...

Estes, certamente, há anos

não vão ao circo.

Estes, mui provavelmente,

pagam infindáveis prestações

bancárias a troco de vaidades...

Estes, não viajam

nas jornadas imaginárias

de seus filhos.

E nem vale a pena a gente

chamar para armar a lona,

arrumar o picadeiro

e ajeitar a Vida,

mais justa e bela,

para que seja ela mesma

espetáculo,

teimoso e inquieto,

da invenção cotidiana

da alegria.

Luciana Cavalcanti
Enviado por Luciana Cavalcanti em 22/05/2024
Código do texto: T8068428
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