As coisas simples e misteriosas da Vida
Nas coisas simples, o encanto se esconde
Na humilde flor que no jardim responde
À chuva que cai, ao sopro expirado do vento,
Tudo murcha e tudo se renova a cada momento.
A mesa posta, tanto coração e o pão à mão,
A família unida no silêncio da comunhão
São bênçãos e desafios que a vida nos oferece,
E nelas descortinamos um Sol, uma prece.
A pele marcada pelo tempo que vive a correr,
Histórias esculpidas, cada ruga a escrever
Uma nova cicatriz, que é uma página sentida
Na epopeia da vida, esta eira tão vasta e linda.
Chove rios de pureza no doce riso das crianças
No olhar dos idosos, o cajado da temperança.
Cada estação é uma floresta a ser percorrida,
Cada momento é uma pérola preciosa, escondida.
O sereno que cai mansinho, na rua a refrescar,
O cheiro da terra molhada, o céu a rir e a brilhar.
Nas flores que desabrocham, no jardim a brotar,
A vida renova-se, pois é um novo ciclo a aflorar.
Na solidão da noite, a lua me segue a contemplar,
As estrelas que piscam alto são lágrimas a brilhar.
E na quietude dessas horas, deito na relva a meditar
Acerca dos mistérios da vida, que nunca vou decifrar.
Esta misteriosa vida é um breve e um longo rio
Entre pedras, curvas e correntezas que vêm e vão;
E em cada margem há um sonho e um aceso pavio,
Pois cada alma, neste rio, canta a sua própria canção.