O VERSAR
O V E R S A R
Chega como acanhada paixão,
Depois cresce até não caber,
Vira fatia grande do pensar
Que leva mais vida à vida,
Que tanto teima em querer pesar.
Mesmo se não afloram os versos,
Cresce a vontade de versar,
Paixão virando vício
Crendo que pode agradar,
Sem cobrar sacrifício.
Pensado, corra para o papel
Antes que memória adormeça,
Levando o que veio de belo,
O que adoça amargo da vida
Expurgando o que nela é fel.
Coração tímido e flácido
Bem mais sensível que devia
Cobra que o que a ele fascina
Não fique dos outros escondido,
Peito de poeta vive em agonia.
Nos poucos momentos de só
Chegam poemas querendo falar;
Dormiam pacientemente
Esperando hora da oclusão
Quando vida inspira o ar.