Sou...

Sou

Borboleta a rasgar o tempo

Pra fazer vida,

Sem nenhum lamento,

Mesmo que seja por pouco

E ganhar o mundo.

Sou

Vento quente

Que da boca úmida expira leve,

Invadindo suave,

Causando calafrios na tez do universo.

Sou

O viço da delicada flor atirada ao vento pra findar no mar

Mas que resiste ao tempo e a dor.

Flor que o mar,

Por pura compaixão, devolve-a

Só pra poder vê-la viver de amor.

Sou

Migalha de luz,

Lágrima cristalina

No meio da imensidão;

Fagulha pequenina

Que atrai insetos,

Alguns belos, iluminados,

Outros, vampiros desorientados.

Sou

Fragrância evaporada

Que persiste na vida

Só pra desnortear.

Sou

Lagartixa lesta

Que sai pela fresta

Pra subir pela parede do mundo.

Sou

O silêncio que toma conta.

Um eco no teu caminho.

Aquela resposta guardada na boca.

Uma carapuça pra se vestir.

O acerto que te importuna.

Sou

Flecha cortando o tempo.

Findo meu passado,

Viajo no agora,

Navego em anseios,

Desconfio da sombra,

Atravesso a dúvida,

Destilo meus medos,

Surfo no risco,

Devoro meus sonhos.

Desafio !

Incomodo !

Perturbo !

Liberto-me !

Me amo !

Ah !... Azar da platéia !

Sou o que sou.

Filha do acaso

Por acaso

Para o acaso.

Me aprofundo !

Vou fundo, cada vez mais fundo.

Tatuo minha marca na derme deste mundo !

Sou única.

Faço a história.

Guardo a memória.

Vitória !

05/11/04