#113- Eu precisava morrer.
Foi difícil, não sei sintetizar o quanto;
Sempre me dediquei aos outros,
Enquanto, por dentro, maculava meu pranto.
Já vilipendiei meus próprios gostos.
Eu, por falta de amor e assim, supostamente, amar demais.
Esqueci totalmente do que eu era,
Eu quebrei, fragmentei todos os cacos que restaram de mim;
Quando me vi no fim da corrida, eu estava em espera.
Eu fiz várias juras e, em nenhuma, eu me jurei amor.
de tudo isso, só carreguei dor.
Eu rasguei não só o meu peito, mas também minha dignidade, só me tirei o vigor.
O amor ou o que eu acreditava ser aquilo, roubou minha paz, minha identidade.
Fez suicidar-se a esperança.
E, assim num piscar de olhos, se foi.
Uma inanição de alegria,
Não restava nada, nada! Nem coragem, nem apetite, nada!
Eu, o vazio e a melancolia.
Foi aí que morri.
Eu morri, ao menos o que restava de mim.
Sofri, persegui mesmo sem forças quem não devia ter partido.
Em meio ao caos e o vazio, eu precisava resgatá-lo.
O cheio pútrido era tudo que restava naquele cemitério.
Porém, ainda havia, mesmo que com um breve sopro, algo ali, vivo.
Algo vivo, e demorou, demorou e doeu bastante para reanimá-lo.
Demorou demais para que as coisas voltassem a ter gosto, para que o calor do sol fosse agradável de novo, para que o perfume das flores voltasse a ser sentido.
Mas, em meio aquilo tudo, ele voltava do coma.
Hoje, anos depois, ele é grato.
Voltou a ser, recobrou as forças das pernas, passou a correr.
Está vivo, apaixonado pela brisa fresca e pela possibilidade de sentir e sonhar de novo.
E, de tudo isso, ficou uma lição valiosa: Às vezes, é preciso morrer.