Espoleta

eis que um tropeço na pedra da felicidade

a fez rolar cambalhotas morro abaixo

era, de fato, uma criança de olhos reluzentes

pernas contentes a correr pelo verde prado

sua alegria tanta embolava os cadarços

bagunçava os encaracolados cabelos

descia de giro intenso a pequena infante

amparada pela gentileza do gramado

o pendor do relevo findou, enfim, o declive

parou a vertigem do corpo, mas não a do riso

abraçava os joelhos, gargalhava-se por demais

quando diante dela, uma presença se aportou

o encantado fim da tarde fez-se em grande vulto

refletiu em seus olhos, pegou a pelas mãos

e caminhou com ela pelas bordas da noite

não havia medo, mas um aveludado acalanto

no breu tanto, fechou os olhos, acendeu o coração

lua a luzir as doudas exuberâncias de Escorpião

dava-lhe a intuição dos seus caminhos, a guiava

ela, que tão bem andava, tinha suas asas à mostra

para batê-las, bastaria um desejo, peraltice súbita

aquilo de querer brincar pelos cantos do planeta

seu semblante espoleta anunciou o dia que nascia

o céu azulou a sua tez, fantasia refeita outra vez

era, de fato, uma criança de olhos reluzentes

rolando cambalhotas mundo afora

tropeçando feliz por entre as pedras da vida

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 25/07/2022
Reeditado em 27/07/2022
Código do texto: T7567830
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