Espoleta
eis que um tropeço na pedra da felicidade
a fez rolar cambalhotas morro abaixo
era, de fato, uma criança de olhos reluzentes
pernas contentes a correr pelo verde prado
sua alegria tanta embolava os cadarços
bagunçava os encaracolados cabelos
descia de giro intenso a pequena infante
amparada pela gentileza do gramado
o pendor do relevo findou, enfim, o declive
parou a vertigem do corpo, mas não a do riso
abraçava os joelhos, gargalhava-se por demais
quando diante dela, uma presença se aportou
o encantado fim da tarde fez-se em grande vulto
refletiu em seus olhos, pegou a pelas mãos
e caminhou com ela pelas bordas da noite
não havia medo, mas um aveludado acalanto
no breu tanto, fechou os olhos, acendeu o coração
lua a luzir as doudas exuberâncias de Escorpião
dava-lhe a intuição dos seus caminhos, a guiava
ela, que tão bem andava, tinha suas asas à mostra
para batê-las, bastaria um desejo, peraltice súbita
aquilo de querer brincar pelos cantos do planeta
seu semblante espoleta anunciou o dia que nascia
o céu azulou a sua tez, fantasia refeita outra vez
era, de fato, uma criança de olhos reluzentes
rolando cambalhotas mundo afora
tropeçando feliz por entre as pedras da vida