Obrigado, Frederico
O dia prometia grandes sensações, pois era o aniversário de 15 anos de minha neta Alice que recusara uma grande festa e preferia uma simples reunião de família com direito ao churrasco delicioso de seu avô. Temperei as asas de frango com alho e sal, estiquei as fatias do coração da alcatra, cortei o elo das linguiças toscanas e acendi o fogo à espera das brasas. Após alguns minutos, o almoço fora servido ao som das músicas populares e bate-papos engraçados da grande parentela.
Outra grande festa acontecia no maior estádio do mundo e eu estava pronto para me assentar na poltrona dos meus contos e quando iniciou a partida, eu me concentrara apenas naquelas três cores do meu coração. Eu assistia ao meu time dar um baile na turma de loucos que não sabiam para que lado correr. Era um bando de jogadores desesperados sendo envolvidos pela arte dinizista de um grande treinador e pelos corta-luzes, canetas, toques de primeira e jogadas envolventes em pequenos quadrados do campo. Ao meu derredor, torcedores rubro-negros ironizavam os três balaios que balançaram a rede do arqueiro filisteu e eu os ignorava a não tirar os olhos da tela gigante que me oferecia a mais saborosa sobremesa.
De repente eu vi aquele atleta sendo aquecido e ouvi a multidão gritando:
- Fred vai te pegar!
E logo após a sua entrada, eu acompanhei passo a passo de seus passos e passes, até que recebeu de frente as pelotas vindas em sua direção e o seu inconsciente escolheu o alvo central para chapá-lo e enviá-lo para o fundo do barbante que antes desviara em alguém e raspara a trave.
Eu não acreditei que o ídolo fosse me levar ao mais alto nível de minhas emoções como uma catarse grega, mas que fazia com que minha alma fosse lavada com as lágrimas que desciam de meu olhos a umedecer meu rosto listrando cores verde, grená e branco.
Era a véspera de uma despedida, vespertina, pois o seu último lance, confesso que não há roteiro escrito para nós dois.