O Homem do Ano

Pelos paparazzis e jornais, meretrizes mantidas pelo capital,

A pessoa escolhida como o homem do ano é uma horrenda

Ode em nome da ganância e desigualdade. Um ser apodrecido

Em gigantesca riqueza via exploração do trabalho,

Sonegação de impostos e golpe de Estado na sofrida Bolívia.

Enquanto isso, diante de irrisória conta bancária,

A minha vida eu a desfruto no minimalismo de

Atitudes simples e significativas ao caráter.

Consumo poucos bens materiais e completo o ego

No gozar do afeto jorrado entre experiências e pessoas.

Diante do obscurantismo reinante nas praças públicas

Saboto o mal estar na leitura de romances dostoievskianos,

Assisto as películas de Glauber Rocha, degusto um cabernet

E aumento o volume ao ouvir os riffs dos Titãs e Black Sabbath.

Aos 36 anos quero conversar com os amigos no bar, ajudar os outros,

Viajar pelos quatro cantos do país, oscular a amada, professorar,

Reler poemas, almoçar com os pais... Subverter a pulsão de morte

Na sensação de que a existência não está passando inutilmente.

Ano que vem não serei escolhido como alguém em especial,

Mas que renove o combustível da vontade para ousar melhor futuro pessoal.

Que renasça o desejo em marchar ao lado dos humilhados e com eles

Trucidar as trevas que emanam no seio social. Sê sempre o mesmo:

Ter a vida em luta e não ser engolido pela indiferença universal.

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 22/12/2021
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