O Homem do Ano
Pelos paparazzis e jornais, meretrizes mantidas pelo capital,
A pessoa escolhida como o homem do ano é uma horrenda
Ode em nome da ganância e desigualdade. Um ser apodrecido
Em gigantesca riqueza via exploração do trabalho,
Sonegação de impostos e golpe de Estado na sofrida Bolívia.
Enquanto isso, diante de irrisória conta bancária,
A minha vida eu a desfruto no minimalismo de
Atitudes simples e significativas ao caráter.
Consumo poucos bens materiais e completo o ego
No gozar do afeto jorrado entre experiências e pessoas.
Diante do obscurantismo reinante nas praças públicas
Saboto o mal estar na leitura de romances dostoievskianos,
Assisto as películas de Glauber Rocha, degusto um cabernet
E aumento o volume ao ouvir os riffs dos Titãs e Black Sabbath.
Aos 36 anos quero conversar com os amigos no bar, ajudar os outros,
Viajar pelos quatro cantos do país, oscular a amada, professorar,
Reler poemas, almoçar com os pais... Subverter a pulsão de morte
Na sensação de que a existência não está passando inutilmente.
Ano que vem não serei escolhido como alguém em especial,
Mas que renove o combustível da vontade para ousar melhor futuro pessoal.
Que renasça o desejo em marchar ao lado dos humilhados e com eles
Trucidar as trevas que emanam no seio social. Sê sempre o mesmo:
Ter a vida em luta e não ser engolido pela indiferença universal.