Viajando

Viajando.

Eu quero o verde dos mares,

“Dos verdes mares bravios

Da minha terra natal.”

Do verde que é mais verdoso

Nas praias do Ceará.

Eu tenho um sonho secreto:

Vou borrifar, com este verde,

Os espaços no sertão

Que o desmate criou,

E as plantas da caatinga

Que o sol de fogo queimou.

Eu quero o espaço dos pampas

Montado num pingo ligeiro,

Quero bombachas bufantes,

O tilintar de esporas,

As luzes de um bom braseiro,

Tal qual estrelas cadentes

Espalhadas pelo chão;

Quero o meu mate escaldante,

E o som de uma viola

Ponteando a escuridão.

“ Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá...”

Quero o céu das Alterosas,

Recheado de estrelas...

Até penso, ensimesmado,

Olhando tanta beleza,

Se os diamantes de Minas

Não foram de alguma estrela

Que caiu

E ninguém viu?

Quero o pantanal infinito,

Sentindo água em meus pés,

Ouvir as plantas crescendo,

Aves voando no céu,

Peixes pulando nas águas,

A onça rosnando arredia

E o jacaré deslizando

Ou se bronzeando de dia.

“...As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam, como lá.”

Quero o Rio de Janeiro

E o prazer de viver,

Meu Flamengo entrando em campo,

E a Mangueira vencer,

Quero o riso das mulatas,

Quero o gosto de viver.

Viajo para São Paulo

Quando quero trabalhar;

“”-Conduzo, não sou conduzido!-“”,

Me dizem as gentes de lá;

A terra em que, qualquer sonho,

Se pode realizar.

E à noite, num bar de luxo,

Uma mulher exigente,

Ardente, sofisticada,

Para, o dia, completar.

Quero o Goiás de meus sonhos

Que trago no coração.

“ Não permita, Deus, que eu morra,

Sem que volte para lá.”

Brasília, não há contexto,

Nem rima, nem solução,

Apesar da gente boa

Que, muita, vive por lá.

Quem sabe, talvez, algum dia,

Não volte a ser a cidade

Dos sonhos de JK.

“... Minha terra tem palmeiras,

Mais prazer encontro eu lá.”

Ninguém sabe o que é Brasil,

Se não ama o Ceará.