Para Suassuna onde estiver (reed.)
Se eu encontrasse Suassuna
Pelos pagos do Rio Grande
Eu diria como é grande
Toda obra que escreveu
Ariano não era ateu
Era quase um profeta.
Minha obra predileta:
"O auto da Compadecida"
Nunca vi na minha vida
Tanto talento e graça
Era também romancista
Da dureza da "raça"
Do sertão do nordeste.
Obra lírica do agreste
Nas façanhas dos meninos
Chicó e João Grilo.
Suassuna já mora no céu.
Mas voltando ao romanceiro
Tem bispo, padre, cangaceiro
E o amor de cativeiro - de Rosinha -
Filha do Coronel.
O dote casamenteiro
Uma porca de dinheiro
Acredite se quiser.
- Quem viu jamais esquece -
Tem um playboy “maneiro”
Que foi ao Rio de Janeiro
E voltou cheio de bossa
Falando só nos "ésses".
Tem cachorra rezada em latim
Filha canina manhosa
Do padeiro e da mulher
Virada em chiliques em boca de carmim.
Tem o soldado atrapalhado
E o chefe do distrito
A se impor pro provaréu
Depois de morrer todo mundo
E a trama termina no céu.
Tem Maria Mãe de Cristo
O Jesus "Emanuel"
"Encourado" é o Diabo
Se achava grande, o coitado
Era um contraventor.
E Maria por piedade
Pede ao Filho, por bondade
Que perdoe os pecados
Que conceda o perdão.
Nas bem aventuranças
O casamento, as bodas
De Chicó e Rosinha
Final feliz, a abastança.
De Cristo verte a paixão.
Se eu encontrar Suassuna
Nos confins da imensidão
Vou agradecer a ele
O legado por ele deixado
Pelas letras da sua mão.