O REI
(Sócrates Di Lima)
Na tarde que atravessa o dia,
debruçado no parapeito,
O Rei declama sua poesia,
No tenor sonido vindo do peito.
E ela em algum lugar o ouve,
Respondendo com a brisa da tarde,
Roçando seu rosto absorve,
E nesse transpor de lembranças,
Ela sorria na sua imagem menina,
E tantas foram as esperanças,
Que parecia uma púrpura resina.
O Rei então perde o seu olhar,
Nas nuvens que o céu carrega,
Tarde azul de longo voar,
nas asas da saudade que chega.
Canta o Rei sua canção de sonhar,
Aquela que a sua amada faz lembrar,
E pássaros num sutil revoar,
Mostraram que vale a pena esperar.
Esperar que talvez num dia qualquer,
Essa brisa que roça a tez,
possa se transformar numa mulher,
E juntos viverem um dia de cada vez.
E o Rei nesse tom de saudade,
Num recuo lacrimejante de piedade,
Fecha a janela e o breu o quarto invade,
Deixando os olhos negros de solidão arcaide.
Apenas promessa de solidão,
Que o coração não aceita,
Mas, está o Rei triste no coração,
Porque a sua vontade foi desfeita.
Queria o Rei içar seu voo planicie afora,
Buscando no tempo, seu tempo mocidade,
Pra viver seu auge antes de ir embora,
Para onde não entra essa tal saudade.
E o Rei ali sonhava acordado,
Com a sua Rainha bem ao seu lado,
Mas, não passou de um momento isolado,
Onde apenas o sonho trouxe o seu bem amado.
E assim o Rei fecha seu caderno,
Onde a poesia um dia escreveu,
Que todos saberiam que todo este querer terno,
Está no peito desse Rei, que por acaso, sou Eu!