Acalanta meu santo e meu poema

Acalanta meu santo e meu poema,

ambos dizem por aí que me ternuram,

que me afagam, que me deitam nas canduras.

Não os quero a afagar-me a todo instante,

pois sei que existem por aí milhões de prantos;

quero ao menos que esse verso donde venho

fosse o doce do poema que escrevinho;

eu seria mais alegre e menos santo.

Ou se o santo protetor dos que escrevinham

me molhasse ao menos dumas gotas sãs;

eu podia escrever do que eu sentia,

sem chorar e nem contar-me num porão.

Mas se o santar desse meu santo me acarinha,

ou se a sanha desses versos se avizinha,

quem me dera acordar de manhã cedo

e em toda folha não haver nenhum segredo:

fosse límpida a imagem a que me escrevo.

Eu seria mais feliz e menos santo?

E se a cura me apagasse o melhor canto?

Sei que há pouco ia feliz o coração,

e se me bate assim feliz à solidão,

o que me resta a não ser feliz também?