QUERÊNCIA
(Sócrates Di Lima)
Furto-me a sabedoria,
Estilhaço minha paciência,
Enigmático na rebeldia,
Rasgo minha tolerância.
Tomo-me na tempestividade,
Meu fio da navalha,
Mesmo contra minha vontade,
A intempestividade a mim invade.
Tento submeter-me ao calabouço,
Aprisionar-me nos meus soluços,
Faço-me em trégua, traço esboço,
Volvo-me aos intempéries impulsos.
Retalho os pulsos da imaginação,
Deixo sangrar até desfalecer,
Para libertar o meu coração,
Das amarras do meu viver.
E assim me pego fora do controle,
Das minhas próprias emoções,
Vasculho minhas razões em console,
Mas, perco-me cego, nas minhas bifurcações.
E grito aos meus ouvidos surdos,
Para que olhe para o meu âmago,
Deixo falar meus sussurros mudos,
Para não beber do cálice amargo.
E assim, mergulho no meu desprazer,
De ouvir soluços de uma alma triste,
Que desarrebanha o ontem para viver,
Mas, parece que o proposital insiste.
Então, abro-me ao sabor,
De não me ater as nuances das intempestividades,
Quebrar o orgulho atrás da porta do amor,
E dizer que estou morrendo de saudades.
Saudades dos dias de sorriso largo,
Dos abraços virtuais que o amor promove,
Da vontade louca que em meu desejo trago,
De abraçar a mulher que a minha querência envolve.
Quero então me desvencilhar da resistência,
Libertar em dobro o amor que carrego,
E como véu cobrir a mulher desta querência,
E seguir amando como amaria a luz, o olhar cego.