Eu quero morrer

Eu quero morrer,

Fatidicamente nesse mundo estrelado,

De ponta a ponta,

Me encontro desapontado,

Eu quero morrer,

De alegria de um novo diário,

Uma nova página a escrever,

Para todos os meus amados.

Quero muito morrer,

De orgulho por toda construção,

Altos prédios e arranha-céus,

Sentir a brisa do inverno tocar todos os véus.

Pergunto-me por onde transpassa a brisa do verão,

Porquanto vivemos nessa constante emoção,

Abstrato como o empilhar de tijolos,

Mas de cal em cal, faz-se lar.

Eu quero morrer,

Entre mãos calorosas,

Que escorrem todo meu amargor,

Dedos suaves, vontades amorosas.

Eu quero morrer,

Nessa solidão mundana,

Que tanto apaixonei,

Através do fátuo da solitude.

Eu quero morrer,

Amarrado em cordas de doçura,

De indelicadeza materna,

O cheiro do amanhecer.

Eu quero morrer,

Dentre todas, pela prosa,

Arrogante e eu lírico,

Em lábios, específicos no tom de rosa.

Eu quero morrer,

Desaparecer materialmente,

Como fagulhas ao vento,

Da eterna chama de uma fogueira.

Sumir em brasa,

Sumir em casa,

Sumir em taça,

Sumir em graça.

Quero morrer,

Não tão gloriosamente,

Sangrando, sozinho,

Esvaziando o coração das mágoas.

Eu quero morrer,

Em teus braços vazios,

Que não se preocupam com espaço,

Apenas com o abraço.

Eu queria viver,

Por mais tempo,

Um segundo no tempo de Deus,

Um minuto, nas correntes do oceano.

Eu quero morrer,

Mas sempre voltar,

Como morre outro dia,

Voltando do trabalho ao lar.

Quero morrer,

Como morri todos os dias,

Pois valeram as lutas,

Mortes que foram vencidas.

Eu quero morrer,

Sentir a agonia de desvair,

Provar o amargor,

Daqueles que morreram por amor.

Eu quero morrer,

Até sufocar,

Daquela emoção,

Quando dizem para ficar.

Eu quero morrer,

De esperança do submundo,

Embaixo dos nossos pés,

Embaixo do convés.

Eu quero morrer,

Afogado em água fria,

Do Mundo de Sofia,

De fazer valer.

Eu quero viver,

Prevalecer como caule,

Da prosa, do saque,

Suficiente como respirar.

Eu quero ser,

Aquilo que ninguém foi na vida,

Usurpar a alegria de um sopro,

De um beijo roubado.

Eu quero morrer,

Pelo sangue retirado da alma,

De forma calma,

Serena por todo amor vívido.

Eu quero ter,

Um sentimento que ninguém pode tocar,

Só se toca em específicos dedos,

Lábios, abraços, costas e cicatrizes.

Eu quero morrer,

Desfalecer dessa vida imortal,

Não se vive duas vezes, ei de ir,

De imoral, sacrifica-se por sentir.

Eu quero morrer,

Abraçado nos cadáveres das raízes plantadas,

Dessa flor que desabrocha no outono,

Pois sua estação, sempre foram as quatro.

Eu quero morrer,

Para te reencontrar,

Me saciar nunca foi suficiente numa vida,

E o próximo eu, tem cara de nós.

Eu quero morrer,

De forma branda tocando o solo,

Ou então tocando-lhe a face,

Pois nessa cova do sorriso,

É onde eu moro.

Eu quero morrer,

Mas sei que não é em vão,

A morte nunca foi o fim,

Mas o começo, sempre começo.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 28/07/2020
Código do texto: T7018885
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