ONDE ANDA VOCÊ
(Sócrates Di Lima)
Ao apagar as luzes da ribalta,
Os meus olhos ficaram negro,
A escuridão que o olhar exalta,
Fechou as cortinas sem arrego.
E a neblina,
Que se esconde nas curvas,
Não deixa enxergar a menina,
Que chora nas águas das chuvas.
E na distância que não alcança,
Nem o olhar e nem a mão,
Por onde anda a doce criança,
No corpo da mulher oculta na escuridão.
Por onde andam os olhos de pirilampo,
Que dantes viam minha alma em elevo,
Que não mais os vejo e nem olhando os campos,
Mas somente no pensamento e no que escrevo.
E quando amanhece o dia,
Assim, como hoje nublado,
Trazendo na chuva a melodia,
De um querer em navalha rasgado.
E a chuva fina que umedece o peito,
Inunda a alma e transborda a face,
É uma saudade que não tem jeito,
Não há como se render em disfarce.
Ah! Por onde anda aquela alegria,
Aqueles querências na madrugada,
Por onde anda a poesia,
Por onde anda a mulher ora pensada!
Por onde anda o riso de menino,
Que dantes floria o meu rosto,
Já não se escuta mais os toques de sino,
E nem mais olhar o horizonte com gosto.
Assim o céu de abril,
Que não se pinta a aquarela,
Quando olho ao longe o céu anil,
O que poderia ser, não passa de uma espera!
Por onde andam os gritos de amor,
Que se espalhava na manhã ainda escura,
Por onde anda aquele ardor,
De amar o hoje e a infinidade futura.
Por onde anda aquela mulher,
Que tanto enche-me de prazer e amor,
E que fez-me um poeta qualquer,
Que finge não sentir a saudade em dor.
Eu bem sei por onde anda essa menina,
Nem das minhas próprias verdades,
Só sei que queima minha vontade em adrenalina,
Só sei que aqui dentro estão minhas saudades.
Por onde anda aqueles olhos de tanta luz,
Que, ainda, o corpo, o coração e a alma seduz,
Por onde andas que meus olhar não vê,
Enfim, o que anda fazendo você!