ASAS DA LIBERDADE
(À maneira de Walt Whitman)
 
Hoje é o vosso dia.

Não vos deixeis ficar inerte

Na janela ignorada de um mundo ignoto,
Ela, recortada num edifício,
Num lugar onde ninguém sabe onde fica,
Vós, recorte de um mundo gasto,
Onde uma existência exaurida
Só precisa de um vestido novo

Para o baile da ressurreição.
 
Eu vou planar destas alturas 
Usando as asas das minhas palavras,
Voar sobre os telhados das casas hibernais
Onde o medo vos conserva prisioneiro
Onde as grades nas janelas
E as cercas eletrificadas
São mais densas que as muralhas 
Que cercam Jerusalém.
 
Quero dizer-vos, prisioneiros,
Que a primavera já chegou.
Ela vos espera no lado de fora
Vestida só com uma folha de grama. 
Há um beijo nos lábios dela
E muito calor no seu abraço.
E a terra já está no cio
Á espera de um amante.
 
Ouvi, ó janelas cerradas
Meu canto livre e descompromissado.
As palavras soltas dos meus versos

O meu poema descontextualizado,
Eu o mando a vós por mensageiro
Como arauto de uma esperança. 
Para a festa que começou lá fora
Sois convidado fundamental.
 
Seja quem for nessa janela, 
Não recuse a mão que eu lhe dou,
Vinde voar como as andorinhas
Experimentando a liberdade,
Nas asas leves de um sonho
Ou num balão de gás de esperanças.
Seja onde for que ele nos leve
Nunca estaremos solitários.
 
Vós, jovens ou mesmo adultos
Ou os que já estão na terceira idade
Se ainda não perderam a ternura
Eu vou dou este meu canto.
À maneira de Walt eu vos convido
A fazer comigo esta oração:
“Senhor Deus dos sonhadores
Daí-nos, hoje, para sempre,
A utopia substancial de cada dia.”