Rocha sobre Rocha

Cavalgando em terra peregrina,

Deixo meu pacta corvina,

Antes minha ida,

Agora minha vinda.

Volto às Terras,

De pegadas severas,

Não a Terra Prometida,

Mas de promessas.

Nessas remessas,

Dos ventos que uivam,

Se curvam em cada esquina de areia,

Me rodeia,

Incendia.

Terras que já foram antigos reinos,

De muitos centeios,

De anseios,

Cantigas e canteiros.

De pedra sobre pedra,

Rocha sobre rocha,

Não teve uma que não quebra,

Não há nada que não desabrocha.

De costas para o sol me sento,

Me atento,

Sob quantas promessas vivera minha caminhada,

Do quantos passos não resultaram em nada.

Os dedos entrelaçados,

Os cotovelos nas pernas foram encostados,

Olhos sombrios e boca rachada,

Respira fundo minh’alma cansada.

“Até quando durará minha Ira, Deus.

Vos é comigo e porque não sou com os seus?

Que me impede de prosseguir ao rumo do farol,

Sentindo anos de cheiro de formol”.

A espada na bainha clamando por desespero,

Ansiando por todo meu desrespeito,

Mas eu não deixarei sobrevoar tua vontade,

Nem aqui e nem em meu leito.

“Olha aqui quantos se foram,

Que criaram castelos e me largaram,

Quem me dizes quando corram,

E no final nem me levaram a teu lado”.

“Por fim sou o amigo ingrato,

O insensato,

Sem sal,

Sem mal”.

A raiva é igual cabelo que cresce,

Quanto mais longo mais cuidado,

Até que tu vai e entristece,

Cortando-o todo enraizado.

Agora porque martela sentimento de saudade,

Sendo que não lhe falta nenhuma equidade,

De beldade já tens o mundo,

Qual a necessidade desse coração imundo?

De rocha sobre rocha,

Pedregulho empilhado,

Peito quente como tocha,

Dê fim n’este reinado.

Do nada como areia que fica em suas grevas,

Para um rei de autonomia,

Te tirei e mergulhou em trevas,

Dondé que fica sua isonomia?

Você se mata na frente da batalha,

Mesmo as facadas não lhe contradizem,

Porém com uma só palavra canalha,

Más são as línguas que teu nome dizem.

De rocha sobre rocha,

Cimentando com sangue, lágrimas e suor,

“Se faz completo” – Diz teu Deus Mor,

Ai de quem a Mim se opor.

O vento que lhe bate a liberdade,

O sangue que espirra ao massacrar teu mal vindo,

Faz de osso sobre osso teu obelisco,

Que nem a mão do inimigo cause abalo sísmico.

Uma voz onipotente pesou a armadura,

Chuva de canivetes ao me ver,

Pôs me em joelhos em fraturas,

E começou ecoar em minha mente Teu querer:

“Tu tens o necessário para superar a ti,

Mas de que proveito tem aquele reino ali?

Qual fruta nasce o limoeiro com trepadeira,

Que já estripou toda e qualquer semente que semeia?”

“Tens passado, presente e futuro,

Não te aturo,

Nem sobreveio por ti asa maior que tua sombra,

Pois o Sol lhe bate a benigna conduta”.

“Quanta dor perdura seu dia,

Até quando dura sua Ira,

O tempo rege a infelicidade e o amor,

Mas tudo é capaz de fazer morrer a dor”.

“Mira tuas mil flechas com seu melhor esmo,

Atira em cripta a ti mesmo,

Perpetua tua visão contra aquele abismo mais negro que infinita noite,

Me diz qual de todas as vezes veio e foi-te,

Quantas vezes se cortou na foice da Morte,

Sobreviveu sem sorte,

Tua morte não prospera,

Pois tua vida é mais que sincera,

E só morrerá, cruelmente,

Necessariamente,

Com meu voto de Minerva”.

“Se de Mim lhe pego pelo pescoço,

Não sobra carne ou osso,

Ficar-me-ei só observando,

Até onde poderei Eu pode fazer brando,

Cada infelicidade de tua alma,

É a Ira da Minha calma,

Quando diz não amar,

É novo trovão ao mar,

Quando prostra teus olhos no chão,

É minha eternidade toda em turbilhão”.

Estremecendo Terra e Céus,

Tampando Sol e Lua com véus,

Colocou teus olhos arco-íris no meu imo,

No teu mais próximo,

Soprou novamente teus ventos e disse:

“Sai do deserto e vive”.

Em meu cavalo negro como um grafite,

Fui-te a encontro de mim,

Deixando as ruínas nos confins,

Enterrando mais um fim.

As palavras do Senhor doem como abraço de mãe,

Que não mede a força quando ama,

Bate para sangrar mas te afaga na cama,

Te aplaude no sucesso e te segura na lama.

Meu coração pesava como o encontro da Lua com o mar,

Arranhava minha armadura para ele encontrar,

Pulsava quieto e saliente,

Ardente de paixão,

Queimando de respiração.

Olhei uma ultima vez às rochas sobre pedregulhos,

Que dentre seus barulhos,

As vozes que diziam “que bom ver-te”,

Foram respondidas com "Arrivederci".

E hoje as correntes amaldiçoadas do passado se vão,

Nunca olhei para trás em vão,

Nunca corri atrás de nenhuma paixão,

Principalmente aquela que a carne me deixou cicatrizes,

Farfalham as atrizes,

Escondendo suas naturezas atrozes.

Pois não há templo que represente,

Não há casa aparente,

Nem castelo resplandecente,

Maior lar que meu coração solene.

Não o melhor para amar,

Nem o melhor para morar,

Mas enquanto ele bombear,

Faça de mim Teu lar,

Mesmo que bagunçado,

Cicatrizando e cicatrizado,

Serás bem-vindo,

Bem-amado.

“Andare avanti”,

Disse ao equino,

Saí apaixonante,

Sorrindo.

A Dios,

Adiós,

A Deus,

Por Deus,

Pelos meus,

Adeus.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 20/10/2019
Código do texto: T6774449
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