Sextou
Ah, se eu pudesse...
Se eu pudesse daria um prêmio a quem a inventou.
Certamente a palavra mais bonita de nossa língua, a brasileira.
Porque ela não se limita a ser apenas uma ação:
o sextou é, acima de tudo, um estado de espírito.
Um louvor ao que acabou, vai recomeçar,
mas que no meio deu aquela brecha, aquele intervalo,
para desanuviar a alma.
Por isso está no passado: sextou.
Não tem sujeito, porque pode ser de qualquer um;
não precisa de complemento, já tem sentido completo.
É um verbo? Um substantivo?
Sei lá, é o mundo!
Você pode "sextou" sozinho, a dois, com os seus amigos.
Na cama lendo um livro, a dois vendo um filme, aos montes na mesa de um bar.
Cada um tem o seu sextou, e todos são válidos.
Porque a felicidade sempre é válida, e modos mil há de encontrá-lá.
Meu sextou da semana está aqui, por exemplo.
Ele é democrático, porém apenas para os merecedores.
Não, não tem sextou para desocupado. Me perdoem.
Estes já mal-sextam na vida...
É preciso ir à luta diária para ser digno dessa liberdade:
trabalhar, estudar, cuidar da casa, tomar conta de alguém.
Há de se não fazer mal a outrem, isso também.
Cansaço só é honesto se fruto da honestidade
(aqui, mais uma vez me perdoem - agora, pela redundância pouco inspirada).
Agradeça pelo seu segundou.
Mas o sextou...
Ahhhhh...
Aproveitem!