Essa pressa que nos traz o desespero...
Essa pressa que nos traz o desespero...
Não temos tempo pra mais nada, que não seja trabalhar.
Essa ocupação que nos consome, e quando passamos por um antigo amigo na rua, só ouvimos o grito: vê se aparece, não some!
É tanto compromisso, a gente já sai de casa atrasado, cuida daquilo, cuida disso, e o convívio amigável, a comunhão, o momento de descontração com os entes queridos vai sendo substituído por isso.
Essa pressa que nos traz o desespero...
O relógio se transformou na nossa bússola, e ao mesmo tempo no nosso fiscal, não somos mais nós que controlamos as horas, mas são as horas que nos dominam. Não há tempo a ganhar, só há tempo a não perder. Parar um pouco para falar com um velho conhecido, por vezes chega a ser um suplício. E os motivos são os mais insignificantes: eu não posso; não dá pra parar; aqui enquanto se descansa se tira leite de pedra; matamos um leão por dia, e matamos a alegria de um aperto de mão, de um abraço carinhoso, de um bate-papo caloroso... Tudo em nome de um compromisso inadiável.
Não prego aqui a irresponsabilidade ou a não pontualidade, mas o chamamento da atenção para valores extremamente mais valiosos.
Nossa corrida frenética é por coisas que vão ficar aqui, não digo que não somam, mas se não formos cuidadosos subtrairão bens que transcendem o que as nossas mãos podem apenas tocar. Ser exemplar é importante, mas nada é maior que o exemplo da fraternidade, da sincera amizade, da consideração recíproca e do que o convívio ardoroso onde os ponteiros são substituídos por braços que se abraçam, e o tic-tac do neurótico relógio pelo feliz batimento de corações que aprenderam que maior que a velocidade imposta pela tecnologia e pelo progresso, é o carinho, o calor humano, o aconchego e o amor que nunca será em excesso. Quanto ao mais... tudo pode esperar, e assim a partir de agora, dê um basta nessa pressa que nos traz o desespero...