ASAS DO DESEJO

As vitrines me sorriam, os manequins,

Convidativos, diziam-me "Ser feliz".

Todo o nevoeiro, parece, conspirava

E as luzes dos postes invejavam a Lua.

Frio cortante bateu-me à saída de um botequim,

Um vento sério (estou aéreo) me contradiz.

Dei com o portão, sem trincos, sem travas,

Convidava-me entrar na casa nua.

O cão me sorriu pelo abano de cauda,

Suspirou no instante em que lhe fiz afago.

Olhou-me como se quisesse, também, um trago -

Ambos éramos seresteiros, à Sílvio Caldas.

E o mundo, o mundo, noutro departamento,

Prosseguia no trabalho mundano de ser vil.

Mas, veja que, naquele mesmo momento,

Um vizinho passou-me pela calçada e sorriu.

NOTA: Uma homenagem a Sílvio Caldas, Noel Rosa, Adoniran Barbosa e Roberto Carlos.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 05/07/2019
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