ASAS DO DESEJO
As vitrines me sorriam, os manequins,
Convidativos, diziam-me "Ser feliz".
Todo o nevoeiro, parece, conspirava
E as luzes dos postes invejavam a Lua.
Frio cortante bateu-me à saída de um botequim,
Um vento sério (estou aéreo) me contradiz.
Dei com o portão, sem trincos, sem travas,
Convidava-me entrar na casa nua.
O cão me sorriu pelo abano de cauda,
Suspirou no instante em que lhe fiz afago.
Olhou-me como se quisesse, também, um trago -
Ambos éramos seresteiros, à Sílvio Caldas.
E o mundo, o mundo, noutro departamento,
Prosseguia no trabalho mundano de ser vil.
Mas, veja que, naquele mesmo momento,
Um vizinho passou-me pela calçada e sorriu.
NOTA: Uma homenagem a Sílvio Caldas, Noel Rosa, Adoniran Barbosa e Roberto Carlos.