NO FUTURO
Um dia despertarei transformado em Açougueiro
somente para descobrir as partes da carne,
avistar o Ilustre bovino, vítima.
Um dia despertarei virado Padeiro,
ele me levará à cesta mágica
ao último horário,
antes do fechamento do pão.
Talvez eu possa despertar Chaveiro;
para abrir um lado do mundo,
aquele do cadeado mental,
das correntezas.
Mas olho pela janela,
e na aurora pronta,
sou um Florista
porque presente mesmo por aqui,
estão as noivas, jarros
um luto de famílias
na construção dos finados.
E como Pedreiro,
eu que apenas admirava misturas,
chegarei ao reboco,
à massa fina,
para, na hora Pintor,
ser o primeiro diante do tapume verdadeiro.
(Experimentarei, por consequência,
a entrega da quina, presença humana)
Um dia acordarei mesmo Camionero,
O almoço estará quente
e à frente do caminhão altivo,
a reta de piche
e o tempo até um porto de mar
para aportar já como Ator de teatro,
porque eles desabotoam disfarces
(Noventa minutos de fascínio sobre o palco).
Um dia acordarei e já listo algumas vidas
que respiram felizes.
No meu contracheque
virá o meu salário de carne, de pão e luz.
Nesta futura manhã em frente ao espelho,
meus rostos garantirão o fim da tristeza.
Eu percebo agora
a incompreensão faz parte do jogo,
não sendo jogo,
senão um sono profundo.
DO LIVRO: "ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS" - não publicado