o dia quase não passou
ficou com medo de que a quiromancia
abrisse os braços e dissesse
vem
será que tem alguém
ou não tem?
a cigana no mato,
ficou com medo de que ela o chamasse pro ato
de ler sua mão
deitasse com ela no chão
que muita poeira contém
ficou com medo de que o bruxo
teimasse em botar no seu bucho
desejos que fossem tão sórdidos
mas tão doces de preservar
também
ficou com medo do ogã
do que ele dissesse amanhã
quando o dia saísse
se ele então assumisse
que nada se encontra no além
ficou com medo do sapo
que não quis comer jenipapo
sem antes zombar do seu trapo
dizendo-lhe que não se vestia
bem
ficou com medo do padre
andando todo de preto
saindo apressado com balas,
bolos, bebidas e beer
que fora comprar no armazém
ficou com medo do dia
da maravilha que tem
Rio, 29/08/2007