NO FUTURO

Um dia despertarei transformado em Açougueiro

somente para descobrir as partes da carne,

avistar o Ilustre bovino, vítima.

Um dia despertarei virado Padeiro,

ele me levará à cesta mágica

ao último horário,

antes do fechamento do pão.

Talvez eu possa despertar Chaveiro;

para abrir um lado do mundo,

aquele do cadeado mental,

das correntezas.

Mas olho pela janela,

e na aurora pronta,

sou um Florista

porque presente mesmo por aqui,

estão as noivas, jarros

um luto de famílias

na construção dos finados.

E como Pedreiro,

eu que apenas admirava misturas,

chegarei ao reboco,

à massa fina,

para, na hora Pintor,

ser o primeiro diante do tapume verdadeiro.

(Experimentarei, por consequência,

a entrega da quina, presença humana)

Um dia acordarei mesmo Camionero,

O almoço estará quente

e à frente do caminhão altivo,

a reta de piche

e o tempo até um porto de mar

para aportar já como Ator de teatro,

porque eles desabotoam disfarces

(Noventa minutos de fascínio sobre o palco).

Um dia acordarei e já listo algumas vidas

que respiram felizes.

No meu contracheque

virá o meu salário de carne, de pão e luz.

Nesta futura manhã em frente ao espelho,

meus rostos garantirão o fim da tristeza.

Eu percebo agora

a incompreensão faz parte do jogo,

não sendo jogo,

senão um sono profundo.

DO LIVRO: "ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS" - não publicado

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 04/03/2018
Reeditado em 12/09/2018
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