A PRIMAVERA DAS FADAS

Enfim retornou a primavera no jardim das fadas

Antes a primavera existia,

mas há muitos anos

que somente se via fotos de alfazemas

e abelhas que não conheciam pétalas.

Sim, regressou a primavera

no jardim das fadas.

Tanto tempo atrás germinou a última

que os caules de velhas begônias

já eram parafusos

e o jardim parecia outra mecânica,

a virar uma fábrica de pregos pintados.

As fadas estranharam o sumiço,

construíram uma altíssima torre

porque imaginaram,

a primavera estaria sobre as nuvens

e quando não a viram ali

questionaram as formigas,

por acreditarem,

a estação das flores

seria um formigamento profundo.

Chegou novamente a primavera no jardim das fadas.

Algumas crianças perceberam

e desenharam melancias

ao lado de aviões azuis,

um sol laranja sorriu

e brilhou na cartolina intacta

porque a cartolina era a antemanhã.

Enfim ressurgiu a primavera do jardim das fadas

e as fadas mais idosas

que lamentaram verões gastos

no suco da uva artificial,

convidarão para a festa

todos os namorados,

porque afinal o amor

é a ideia relacionada,

o adubo da flor dos cativos.

É primavera do jardim das fadas

e não fossem as farsantes

que quiseram vender outonos

e seus plásticos,

tudo estaria bem.

Mas não nos incomodemos,

agora somos anjos

e não bastardos de asas,

viveremos a primavera

e teremos a surpresa:

as flores cobrirão a tristeza

com o bom senso do perdão.

Estaremos livres,

longe do mau cheiro dos vícios,

além da senilidade da culpa

e também floresceremos.

Do livro: "CRIANÇA, SUBSTANTIVO SOBRECOMUM"

phcfontenelle@gmail.com

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 25/02/2017
Reeditado em 25/03/2024
Código do texto: T5923678
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