RESSURREIÇÃO
A tua vida me impressiona.
Ela é tudo aquilo
que os intelectuais chamariam de caos,
os preconceituosos de sujo,
os religiosos de pecado,
os hipócritas de inferno.
Ela é aquilo que eu chamo apenas VIDA.
Você é primitivo como a mata virgem,
bom como quem ouve estrelas,
doce como quem entende um jumento,
puro como uma criança que tem medo do escuro.
E eu,
tão pequenina diante de você!
Perdi minha cor,
forma, identidade.
Deixei minha verdade
entre páginas de tantos livros
e arquivos empoeirados.
Perdi meu falar
nas palavras difíceis
e nas expressões esnobes.
Perdi meu pensar
em reflexões complicadas
e lições presunçosas.
Mas não perdi a minha essência:
coração, sentir.
E, ao encontrar você,
volto às raízes,
quero tirar todas as capas
e quero ser quem sou.
Volta à tona
a mulher encantada,
simples,
pura,
que a mentira drogou.
Dispo a minha armadura,
ponho-me nua,
feita de lama e sol.
Renasce em mim
a mulher primitiva
que é pranto e riso,
estrela e bicho,
grito e silêncio,
vida e amor!