eparrê, moça fromosa
a foda é a mulher
mas sempre haverá a mulher
que realmente é foda
no amplo sentido do termo
na conjugação do infortúnio
na animação da tristeza
no entristecer da alegria
na hora da Ave-Maria
no regurgitar da saudade
no espetacular da verdade
no cheiro do travesseiro
no doce perfil da mentira
no choro de um ano inteiro
durante o clamor que delira
a mulher que é foda
tem o sorriso maneiro
tem o sorriso da ira
tem o brilho da safira
e o mando no cativeiro
é ela que planta na terra
e canta no chão do terreiro
eparrê, Iansã
é ela que vence a demanda
ou está por trás do guerreiro
é ela o estertor da conquista
é ela que prepara a pista
pro pouso do aeroplano
é ela o nosso desengano
é ela a dessemelhança
é ela a força e a pujança
da virgem dos lábios de mel
é ela José de Alencar
é ela o Prêmio Nobel
e se ela não existisse
seria a maior caretice
ou a negação da crendice
seria um “Deus do céu”
Rio, 18/10/2006