Poeta piá
Naquele olhar a tristeza refinada se revira em alegria
O poeta piá, arisco no pulo do gato, vai além, vai até lá
Sua carta é guardada na mangueira do seu infinito quintal
Pontua com tanto esmero, sublinhando de solar amarelo
E de branco, em banco desbanca o estatuário e sorri
Desmancha nuvens em seus voos de simulada simetria
Brinca de pousar, aquietando grãos de areia que saltitam
Se o mundo fica pequeno, conhece a arte de multiplicar
Inventa galáxias, explode universos e viaja até onde se lança
Iça estrelas, peneira poeira, dá corda na terra para ela girar
Em suas mãos estão todas as regras para muitas quebrar
Doador de brilho, usa do seu cinzel e ajeita até o que nem há
É e não fica, fica sem ser um tanto sem querer, o poeta piá
Há instantes em que sua alegria é apunhalada de melancolia
Então todos os céus se derretem em lacrimejantes cores
Todas as músicas se entrelaçam no descompasso de dores
Coisa mais triste, assim não persiste e se pendura ao luar
Piá faceiro, tão assim brejeiro, é exímio na arte de ensinar
Ainda que no remanso, reluz seu encantamento contagiante
Tonta que não sou, olho e brindo o mestre, o poeta e o piá