QUEM SOU EU?
QUEM SOU EU?
I
Quem sou eu?
Não sou nada.
Sou m pequenino grão de areia,
Presa cativa de uma só cadeia --
Teia tecida pelo destino
Que mordaz, traiçoeiro,
Me faz navegar em desatino,
Num cerrado nevoeiro,
Pelo oceano da vida,
Com o peito, a alma ferida
Palmilhando a longa estrada
Em busca do meu perdido norte
Que naufragou, ingrata sorte,
Na correnteza do meu eu!
II
Quem sou eu?
Por que aqui estou?
Que mistérios encerram o peito meu?
Por que guardo na alma, no coração,
Um mundo de paixões, de ilusões,
De sonhos, esperanças e decepções?
Quem sou?
O vento ululante responde:
Poeta, para o mundo,
Não és nada.
És, porém, para Deus -- muito importante
Que com afeto, com amor, te criaste,
Te preparaste
Para seguires pela longa
Estrada do existir,
Que por ventura,
No fim da jornada, corresponde
Ao último porto
Comum a toda criatura,
Mesmo que enseje,
Bestificado deseje
Riquezas, troféus e glória,
Sua única vitória --
É baixar à sepultura,
Cujo porteiro
Esse diligente hospedeiro
Das plagas de além-túmulo,
Solícito à espera está
Do hóspede que ali chegue.
Que importa que seja rico ou pobre
Está sempre aberta a porta!